Preso pela PF, Daniel Vorcaro tem fortes ligações com Ciro Nogueira, a prisão acende novo alerta sobre as conexões entre finanças e política em Brasília
Quarta-feira, (19) de novembro de 2025
A prisão de Daniel Vorcaro, na manhã desta terça-feira, acrescentou um novo capítulo à já conturbada relação entre o grupo ligado ao Banco Master e figuras centrais do establishment político em Brasília. Detido em operação sigilosa que apura crimes financeiros e possíveis movimentações ilícitas associadas ao conglomerado controlado pela família Vorcaro, Daniel foi conduzido para prestar depoimento sobre suspeitas de participação em esquemas de lavagem de dinheiro e manipulação societária. A ação, segundo fontes da investigação, mira ramificações que vão do mercado financeiro ao núcleo de articulação partidária no Congresso.
A prisão ocorre em meio à recente crise envolvendo o próprio Banco Master, cujo presidente, Daniel Vorcaro, tornou-se peça central em uma das operações mais nebulosas do sistema financeiro brasileiro: a tentativa de venda do Master ao Banco Regional de Brasília (BRB) — operação avaliada em R$ 23 bilhões, aprovada pelo Cade, mas posteriormente barrada pelo Banco Central. O episódio provocou forte reação institucional e levantou suspeitas de que pressões políticas estariam sendo montadas para reverter a decisão da autoridade monetária.
Reportagens do PensarPiauí detalham como a crise do Master se entrelaça às movimentações do senador Ciro Nogueira (PP-PI), hoje uma das figuras mais influentes do Congresso Nacional. Segundo o portal, o Progressistas atua em duas frentes simultâneas: de um lado, defende a aprovação de um projeto de lei que daria a deputados e senadores o poder de demitir diretores do Banco Central, enfraquecendo sua autonomia; de outro, aparece em articulações diretas relacionadas à venda do Banco Master ao BRB.
O fator de conexão entre as duas frentes é justamente Daniel Vorcaro, presidente do Master e personagem que transita com desenvoltura entre dirigentes do PP e do União Brasil. Sua proximidade com Ciro Nogueira é citada como elemento decisivo para o avanço das negociações com o BRB, sobretudo porque o governador Ibaneis Rocha (MDB) busca consolidar aliança eleitoral com essas siglas para 2026 — quando pretende disputar o Senado e apoiar a vice Celina Leão (PP) ao governo do DF.
A presença de Vorcaro em festas, camarotes e reuniões políticas reforça esse alinhamento. No dia seguinte à eleição de Hugo Motta para presidir a Câmara, por exemplo, ele esteve em uma celebração repleta de caciques partidários. Algumas semanas depois, patrocinou um camarote na Sapucaí que reuniu Ciro Nogueira, Antônio Rueda, dirigentes do PP e do União Brasil, além de parlamentares de peso. Esses encontros, segundo analistas do mercado, não são meramente sociais: revelam o esforço do Master para construir uma rede de proteção política em meio ao desgaste crescente de sua reputação.
O interesse político por trás da pressão contra o Banco Central
No centro desse tabuleiro está a ofensiva liderada por Ciro Nogueira para alterar a legislação e permitir que o Congresso tenha poder de demissão sobre diretores do Banco Central. A iniciativa, conforme destacou o Pensar Piauí, surgiu justamente após o BC vetar a aquisição do Master pelo BRB — decisão que frustrou interesses da cúpula partidária e produziu ruído entre agentes financeiros.
A tentativa de reverter a autonomia da autoridade monetária levanta suspeitas de que o senador estaria movendo peças legislativas para abrir caminho a negócios que favorecem aliados, entre eles os controladores do Banco Master. A percepção ganha força diante do histórico recente do banco, envolvido em denúncias de práticas arriscadas, suspeitas de superfaturamento e até menções em investigações sobre lavagem de dinheiro ligada ao PCC.
No mercado financeiro, a operação de compra é frequentemente tratada como uma “bomba-relógio”, capaz de contaminar o balanço do BRB e gerar passivos para o Distrito Federal. O alerta levou o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, a se reunir com André Esteves e Paulo Henrique Costa, numa tentativa de evitar que a pressão política ultrapasse os limites da responsabilidade institucional.
Prisão de Daniel Vorcaro: peça que faltava no quebra-cabeça
A captura de Daniel Vorcaro adiciona tensão ao cenário. Se confirmadas as suspeitas de que ele participou de operações financeiras ilícitas vinculadas ao Master, a investigação pode avançar sobre a estrutura societária do banco e, inevitavelmente, aprofundar as conexões entre o grupo Vorcaro e seus aliados políticos.
Em Brasília, a leitura é que a prisão abre uma nova frente de desgaste para o bloco comandado por Ciro Nogueira, justamente no momento em que o PP tenta redefinir seu papel no xadrez nacional e ampliar sua influência sobre as instituições de Estado.
Enquanto as investigações avançam, cresce a percepção de que os laços entre política e finanças no episódio do Banco Master vão muito além de encontros sociais ou alianças eleitorais. A prisão desta manhã pode ser apenas o primeiro movimento de uma operação que promete expor, com ainda mais clareza, os interesses cruzados que marcaram a tentativa de salvar o banco — e os riscos que tais manobras representaram para o sistema financeiro e para o País.

