ALEXANDRE DE MORAES DESAFIA DONALD TRUMP E DIZ QUE NÃO RECUARÁ 'UM MILÍMETRO'

Ministro do STF garante que julgamento de Bolsonaro está no 'devido processo' e não se intimida com sanções de Trump em entrevista ao jornal estadunidense The Washington Post
Segunda-feira, (18) de agosto de 2025 
Em entrevista concedida ao jornal estadunidense The Washington Post, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes afirmou que não recuará diante de pressões políticas e externas, como a empreendida por Donald Trump, sobre o julgamento de Jair Bolsonaro e do núcleo crucial da trama golpista.
“Não há a menor das possibilidades de recuar nem um milímetro. Faremos o que é certo: receberemos a acusação, analisaremos as provas e quem deve ser condenado será condenado, e quem deve ser absolvido será absolvido”, disse o magistrado.
Moraes explicou medidas recentes adotadas contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, incluindo prisão domiciliar e bloqueio em redes sociais e reiterou que foram motivadas pelo descumprimento de ordens judiciais. O ministro também comentou sua posição em casos envolvendo influenciadores e apoiadores de Bolsonaro que teriam ameaçado a ordem democrática.

“O Brasil foi infectado pela ‘doença’ da autocracia, e era meu trabalho aplicar a ‘vacina’”, afirmou. A entrevista ainda destacou os embates de Moraes com figuras globais como Elon Musk, ressaltando sua posição de destaque no combate à desinformação e à violência política como consequência dos ataques da direita. "Moraes tornou-se uma autoridade nacional, bem como algo de uma figura globalmente única: um xerife da democracia."

O governo dos Estados Unidos, sob a administração de Donald Trump, reagiu às medidas de Moraes com sanções pessoais baseadas na Lei Magnitsky, além de revogar seu visto. A situação se agravou após disputas envolvendo Elon Musk, com quem Moraes entrou em conflito ao ordenar a suspensão de contas na plataforma X que propagavam desinformação.

Sobre a investigação
“Enquanto houver uma necessidade, a investigação continuará”, afirmou Moraes, destacando que todas as ações tomadas foram respaldadas pelo STF, com mais de 700 ordens revisadas por colegas sem que nenhuma tenha sido revogada.

O ministro ressaltou que seu trabalho não se limita a punir, mas a proteger a instituição democrática brasileira. Ele também comentou a polarização dentro do país e o aumento das ameaças digitais e físicas a políticos, jornalistas e instituições. Para Moraes, isso exige respostas firmes do Judiciário.
"Não há como recuarmos do que devemos fazer", disse ele sobre um dos julgamentos mais importantes da história do país. “Eu digo isso com total tranquilidade”
Segundo o Post, "para compreender a ascensão de Moraes ao topo do Judiciário brasileiro e as possíveis consequências de suas decisões", ao menos 12 amigos e colegas do ministro foram questionados, muitos sob condição de anonimato devido à natureza sensível das discussões.
"A maioria defendeu Moraes, dizendo que suas medidas linha-dura ajudaram a preservar a democracia brasileira em um momento em que o autoritarismo está crescendo em todo o mundo", disse o jornal.
Sobre sanções de Trump
Moraes refletiu sobre a perda de liberdade pessoal nos Estados Unidos, sua crescente lista de inimigos e as restrições de viagem impostas por Donald Trump e diz: “É agradável passar? Claro que não é agradável", mas destaca que apesar dos desafios, o Brasil enfrentou forças poderosas que tentavam desestabilizar a democracia, e que era seu dever contê-las. “Enquanto houver uma necessidade”, disse ele, “a investigação continuará”.

“Essas narrativas falsas acabaram envenenando o relacionamento – falsas narrativas apoiadas pela desinformação espalhadas por essas pessoas nas mídias sociais”, disse Moraes. “Então, o que precisamos fazer e o que o Brasil está fazendo é esclarecer as coisas.”

"Brasil combate ameaça de Bolsonaro melhor que EUA combatem a de Trump", diz Levitsky
O cientista político, professor da Universidade de Harvard e autor do livro "Como as democracias morrem", Steven Levitsky, elogiou a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento dos atos golpistas de 8 de Janeiro e declarou que o Brasil defendeu a democracia melhor que os Estados Unidos.

As declarações de Levitsky foram feitas durante o seminário "Democracia em Perspectiva na América Latina e no Brasil", no Senado Federal, nesta terça-feira (12). Para o professor, o Congresso e a Justiça dos EUA "abdicaram de sua responsabilidade de encarar o autoritarismo de Trump", enquanto o Brasil se manteve firme na defesa de sua democracia.

"Alguns poderiam argumentar que a Suprema Corte brasileira deveria dar alguns passos atrás. Mas acredito que a Suprema Corte brasileira fez exatamente a coisa certa, defendendo a democracia brasileira agressivamente. A resposta do Brasil à ameaça de Bolsonaro tem sido mais eficaz do que a resposta americana a Trump. O Congresso e a Justiça dos Estados Unidos abdicaram de sua responsabilidade de encarar o autoritarismo de Trump", afirmou Levitsky.
"No Brasil, estão investigando e processando Bolsonaro, baniram a possibilidade de Bolsonaro concorrer a cargos eletivos, e parece que vão condená-lo por seu atentado à democracia. (...) Essa é uma diferença [em relação aos EUA] que tem consequências", declarou o professor.
Levitsky ainda falou sobre os ataques e ameaças de Trump ao Brasil, que vem sancionando autoridades e pressionando ministros do STF para defender Bolsonaro. Para o professor, os EUA punem o Brasil justamente porque o Judiciário brasileiro está fazendo o que os estadunidenses deveriam ter feito.
"A grande ironia é que os Estados Unidos estão punindo o Brasil hoje por fazer o que os americanos deveriam ter feito. Como cidadão americano, eu sinto vergonha dessa situação", lamentou Levitsky.


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