APÓS FORD E FOREVER 21, GENERAL MILLS ANUNCIA FECHAMENTO DE FÁBRICA DA YOKI NO BRASIL

Quarta-feira, 13 de janeiro de 2021
Após as empresas estadunidenses Ford e Forever 21 anunciarem o fechamento de suas fábricas e lojas no Brasil, a General Mills, responsável pela marca Yoki, anunciou na segunda (11) que vai encerrar as atividades na fábrica da cidade de Nova Prata, na serra gaúcha, demitindo 300 funcionários.

A empresa, em nota, disse que o processo faz parte de um “plano de reestruturação em parte das suas operações no país” e que “ajustes fazem parte de uma estratégia que prevê acelerar o crescimento dos negócios da empresa no Brasil”, informou o portal CNN Brasil. 

Segundo a reportagem, a produção de pipoca ficará concentrada somente na fábrica da cidade de Pouso Alegre, no interior de Minas Gerais.

Forever 21 e Ford
A rede Forever 21, ícone da fast fashion (moda rápida) no mundo, está fechando 11 de suas lojas no Brasil. Conhecida pela venda de roupas a preço baixo, a rede sofreu diversas acusações de uso de trabalho escravo ao longo dos anos. Já montadora Ford anunciou nesta segunda-feira (11) que encerrará a produção de veículos no Brasil em 2021, o que levará mais de cinco mil brasileiros à fila de desemprego. 

Gigante da moda, Forever 21 apela à recuperação judicial para não falir
De acordo com a vice-presidente, Linda Chang, a reestruturação com amparo da Justiça será a alternativa para honrar os compromissos com credores e afastar a possibilidade de falência. ;O financiamento de JPMorgan e TPG Sixth Street Partners vai suprir a Forever 21 com o capital necessário para empreender mudanças críticas nos Estados Unidos e no exterior, revitalizar nossa marca e impulsionar nosso crescimento, permitindo que possamos honrar nossas obrigações com clientes, fornecedores e empregados;, afirmou a executiva, em comunicado.

As notícias de que a Forever 21 estava à beira do colapso ganharam corpo nos últimos meses, reduzindo ainda mais a capacidade de captação de recursos no mercado. O cofundador e controlador da empresa, o sul-coreano Do Won Chang, vinha negociando pessoalmente as dívidas, mas não conseguiu fechar um acordo com as administradoras de shoppings Simon Property Group e a Brookfield Property Partners LP.

;O problema é que a Forever 21 demorou demais para fazer os ajustes necessários, diante de um varejo que vinha encolhendo ano a ano, especialmente no mercado americano;, diz Maximiliano Tozzini Bavaresco, CEO da Sonne Consultoria, especializada em recuperação de empresas. Em 2017 (último dado disponível), o faturamento da rede foi de US$ 3,4 bilhões (R$ 14,1 bilhões). Atualmente o grupo emprega mais de 30 mil trabalhadores.

O varejo físico está, claramente, enfrentando um dos mais desafiadores ciclos dos últimos 100 anos. Nos Estados Unidos, 6 mil pontos de venda foram fechados em 2017. No ano seguinte, subiu para 9 mil unidades. Para 2019, estima-se o fechamento de 12 mil lojas, afetadas principalmente pelo avanço do e-commerce. ;Enquanto o comportamento de compra mudou rapidamente, a empresa dimensionou mal o varejo on-line, criando uma dependência muito grande das lojas físicas;, acrescentou Bavaresco.

Os detalhes do plano de reestruturação da Forever 21 ainda não foram revelados, mas segundo reportagem da Bloomberg, o plano prevê o fechamento da maioria dos pontos de venda na Ásia e na Europa. Na América Latina, a intenção é manter a operação, mas não está claro se a rede vai fechar alguma de suas lojas no Brasil, onde iniciou as atividades em 2014.

Desde aquele ano, a rede abriu 15 unidades no país, mas já vinha freando sua expansão por aqui. ;Ao concentrar seus negócios nas Américas, a empresa reduz a complexidade de sua operação, diminuindo custos logísticos, por exemplo;, afirmou o especialista da Sonne.

A Forever 21 se tornou um ícone entre os jovens americanos no início dos anos 2000, com uma proposta de oferecer roupas similares às de grandes marcas de moda a preços acessíveis ; modelo de negócio que ganhou o apelido de fast fashion.

Disputando com empresas, como a holandesa H e a espanhola Zara, a companhia começou uma expansão agressiva no setor de roupa masculina e calçados após a crise econômica de 2008. No meio do caminho, as empresas sofreram acusações de explorar trabalho escravo para conseguir manter preços baixos, o que resultou em boicotes por parte dos consumidores. Muitos especialistas, no entanto, atribuem as dificuldades das empresas aos altos custos de aluguel e à forte concorrência do comércio eletrônico.

"Chocante e triste", afirma prefeito de Nova Prata 
O anúncio de fechamento do parque fabril da Yoki de Nova Prata pegou a cidade de surpresa. A empresa, pertencente ao grupo internacional General Mills (com sede em Minneapolis, nos Estados Unidos), informou segunda-feira que, a partir de maio, encerrará as atividades na unidade gaúcha e concentrará a produção de pipoca em Pouso Alegre (MG), reestruturação que vai permitir "acelerar o crescimento dos negócios da empresa no Brasil".

Com cerca de 28 mil habitantes, sendo em torno 7,9 mil trabalhadores (Caged), o fechamento da fábrica representa um impacto social significativo no município da Serra, avalia o prefeito Alcione Grazziotin (MDB). Ele comenta que conversou com diretores da empresa, mas que a decisão é irreversível.

— Muito negativo. Quando os diretores de relações externas da General Mills nos comunicaram, surpreendeu a nós todos, nem imaginávamos que isso estava prestes a acontecer. Até solicitei reconsideração da situação, mas eles disseram que a ordem teria vindo da direção da empresa — relata.

Ele classifica a decisão "da empresa como chocante e triste" e lamenta a perda de empregos que o fechamento da fábrica irá gerar.

— Foi chocante para toda nossa comunidade, pois são 230 empregos diretos (a empresa informa cerca de 300), e o dobro disso de indiretos e vai mover negativamente a nossa economia, especialmente num ano que inicia de pandemia mundial. É chocante e triste — ressalta Grazziotin.

O prefeito não soube informar efetivamente qual é a participação econômica da empresa na cidade.

Em nota, a General Mills informou que ''os funcionários afetados receberão toda a assistência no período de transição, e que a empresa está empenhada em oferecer o melhor pacote de benefícios, negociado junto ao sindicato (da categoria)". A fábrica da Yoki opera em Nova Prata desde 1998.

Nota oficial da General Mills
"Para ampliar a capacidade produtiva, otimizar sua cadeia operacional e oferecer melhor nível de serviços a todos os seus clientes no Brasil, a General Mills anuncia reestruturação em parte das suas operações no país. Os ajustes fazem parte de uma estratégia que prevê acelerar o crescimento dos negócios da empresa no Brasil, um dos mercados prioritários para a organização.

A partir de maio, a empresa concentrará sua produção de pipoca na cidade de Pouso Alegre/MG, o que ocasionará o encerramento das atividades da fábrica de Nova Prata/RS. Os funcionários afetados receberão toda a assistência da General Mills nesse período de transição, e a empresa está empenhada em oferecer o melhor pacote de benefícios, negociado junto ao Sindicato. Ciente da importância da fábrica na economia local, a General Mills está comunicando a decisão aos produtores parceiros, e todos os acordos e compromissos serão cumpridos."

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Zé Carlos Borges

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