SECRETÁRIO DA SEGURANÇA PÚBLICA E GCM SÃO CONDENADOS POR ROUBO DE CARNE; CONDENADOS INTEGRAM MILÍCIA, DIZ MPSP

Prefeito do PL, sai em defesa do Secretário. O MP vê que parte da corporação é corrompida e investiga milícia de GCMs na cidade.
Sexta-feira, (18) de abril de 2025 
O secretário da Segurança Pública de Ribeirão Pires (SP), Sandro Torres Amante; o antigo inspetor-chefe da Guarda Civil Municipal (GCM), Gutembergue Martins Silva; e o ajudante geral Marcelo Cruz Dallavali foram condenados pelo crime de furto qualificado. 

A decisão, em segunda instância, foi proferida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) neste ano, segundo informações da TV Globo.

Na decisão, a Justiça também decretou a perda dos cargos públicos de Sandro e Gutembergue. No entanto, Sandro permanece no cargo porque recorre da condenação no Superior Tribunal de Justiça (STJ) - última instância ordinária antes do trânsito em julgado.

O crime de furto de mercadorias pelo qual foram condenados ocorreu em açougues em junho de 2018. Naquele ano, Sandro era subcomandante da GCM de Ribeirão Pires, cidade localizada a cerca de 30 km da capital paulista.

Segundo a denúncia do Ministério Público, a qual a Globo teve acesso, os réus cometeram dois furtos consecutivos na madrugada do dia 18 de junho de 2018. Em um curto espaço de tempo, os envolvidos teriam subtraído aproximadamente 60 quilos de carnes nobres e R$ 28 mil em dinheiro dos estabelecimentos comerciais Izzo e Parati, localizados no centro da cidade, a poucos metros de distância um do outro.

No primeiro açougue, os criminosos levaram:
  • 15 kg de picanha
  • 10 kg de contrafilé premium
  • 12 kg de alcatra
  • R$ 8 mil em dinheiro
  • Um cofre
Já no segundo açougue, foram furtados:
  • 20 kg de carne bovina
  • R$ 20 mil em espécie
  • Diversos cheques
  • Equipamentos de segurança (câmeras de vigilância)
  • Gravações do sistema de monitoramento (DVD)
  • Dispositivos de rede (roteadores)
De acordo com as investigações, os furtos foram premeditados. Consta nos registros processuais que Gutembergue, à época inspetor-chefe da GCM, teria manipulado o sistema de videomonitoramento municipal momentos antes da ação criminosa, redirecionadas as câmeras para não filmarem os açougues.

Paralelamente, durante o período em que as câmeras estavam sendo manipuladas, uma denúncia falsa foi registrada, simulando uma ocorrência que demandou o deslocamento das equipes da Guarda Civil e da Polícia Militar para longe do Centro, distanciando-as do local dos crimes.

À TV Globo, Sandro afirmou ser inocente. "Em primeira instância fui absolvido, em segundo instância, dos sete crimes que inventaram sobre mim, esse daí deu essa condenação que foi um acórdão, né? Que já foi respondido já foi o meu advogado já fez a defesa para agora para terceira Instância, né? E com fé em Deus vai ser esclarecido porque não tem nada a ver comigo. Com certeza, 30 anos de funcionário público aqui", disse.

Prefeito se manifesta
Guto Volpi (PL), prefeito de Ribeirão Pires, saiu em defesa de Sandro nesta quinta (17/4). No perfil no Instagram, Volpi afirmou acreditar na inocência do secretário e elogiou a carreira profissional dele.
“Destaco aqui a trajetória do Sandro, guarda municipal com 30 anos de carreira na Prefeitura e contribuições à cidade. Reafirmo meu compromisso com a verdade, salientando que toda e qualquer decisão da Justiça será cumprida por nosso governo”, disse, em nota.
Câmeras registraram suspeitos
Uma testemunha do caso, sob proteção, contou que, ao voltar do intervalo, notou que câmeras de segurança haviam sido movidas. Ao ajustá-las de volta, registrou Sandro, Gutembergue e Marcelo repartindo os produtos roubados.

O processo também aponta que, um dia depois dos furtos, Gutembergue ficou por horas na sala de monitoramento da Guarda Civil. A suspeita é que ele tentou apagar as filmagens da noite do crime.

Mesmo sendo réu no processo por furto, Sandro assumiu em 6 de dezembro de 2023 o cargo de Secretário Municipal de Segurança Urbana, Mobilidade e Defesa Civil de Ribeirão Pires.

A investigação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público, aponta também que os réus formaram uma milícia privada. Por isso, além do furto, foram denunciados por esse crime.

Segundo o MP, entre 2019 e 2023, os guardas municipais envolvidos participaram de um esquema que misturava segurança privada e crimes. Testemunhas disseram que empresas legais eram usadas como fachada. "Os serviços de segurança oferecidos aos clientes parecem ter como função principal a obtenção de pagamentos para que os estabelecimentos comerciais não sejam vítimas da própria criminalidade do grupo, como ocorreu nos dois furtos ora denunciados", diz trecho da denúncia.

O Ministério Público afirma ainda que há provas ligando Sandro a outros crimes, como recebimento de propina de traficantes. A Justiça rejeitou a denúncia por milícia, mas as investigações seguem em andamento.

Indícios de milícia e extorsão
O Ministério Público investiga uma possível formação de milícia privada dentro da GCM, entre 2019 e 2023. 

O Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) aponta que:
  • Guardas civis estariam oferecendo segurança privada para comerciantes em troca de dinheiro.
  • A tática seria “criar dificuldades para vender facilidades” — ou seja, permitir crimes para depois vender proteção.
  • Testemunhas relataram até envolvimento com tráfico de drogas, propina e extorsão.
Moto apreendida em outra cidade
  • Um vídeo foi publicado nas redes sociais do secretário Sandro Torres Amante.
  • No vídeo, é mostrada a apreensão de uma moto que havia sido roubada em Ribeirão Pires, na Grande São Paulo.
  • Sandro afirma que recuperou a moto na Zona Leste de São Paulo.
  • No entanto, o boletim de ocorrência registra que o veículo foi recuperado em Mauá, cidade vizinha.
  • A recuperação da moto ocorreu sem o conhecimento da guarda municipal de Mauá.
Nomeado mesmo condenado
  • Em dezembro de 2023, mesmo respondendo ao processo, Sandro foi nomeado secretário da Segurança pelo prefeito Gustavo Volpi (PL).
  • A Prefeitura alegou não ter sido notificada da condenação em segunda instância.


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