Policiais também cumpriram mandados de busca e apreensão em Igreja Evangélica, na prefeitura, e na casa do prefeito de Sorocaba, que ganhou fama nas redes sociais com vídeos chamativos, utilizando desinformação.
Sexta-feira, (11) de abril de 2025
A Polícia Federal encontrou nesta manhã R$ 863.854 em espécie em um endereço ligado ao bispo Josivaldo Souza e sua esposa, pastora Simone Souza, na investigação sobre suspeita de fraude e corrupção na área da saúde em Sorocaba (SP).
O que aconteceu
Líderes religiosos foram alvo de buscas na operação. A pastora Simone é cunhada do prefeito do município, Rodrigo Manga (Republicanos), conhecido como "prefeito tiktoker", investigado por suspeita de receber propina decorrente de um contrato na área de saúde.
O valor foi encontrado em um dos endereços dos religiosos. A PF fez buscas na igreja e na residência do casal e encontrou a quantia de dinheiro em uma caixa dentro de um carro que estava em um dos endereços. Na caixa, havia notas de R$ 2, R$ 5, R$ 10, R$ 20, R$ 50 e R$ 100.
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Dinheiro apreendido na casa de pastor durante operação que mira prefeito de Sorocaba — Foto: Divulgação — Foto: Polícia Federal/Divulgação |
Além da caixa, a PF também encontrou dinheiro nos cofres da residência. As notas foram enviadas para a Caixa Econômica Federal, que vai contabilizar os valores. A investigação chegou aos religiosos após identificar movimentações suspeitas a partir da quebra de sigilo bancário e fiscal dos investigados.
A Justiça mandou bloquear até R$ 20 milhões de todos os investigados. Com isso, valores localizados pela PF foram apreendidos. A investigação mira contrato emergencial e sem licitação assinado em 2021 pela prefeitura com uma Organização Social (OS) para gerir uma UPA do município.
O prefeito é suspeito de receber propina, segundo apurou o UOL. As investigações apontam que Manga teria recebido propina por meio de transações imobiliárias e depósitos em espécie a operadores financeiros, incluindo um amigo pessoal do prefeito, o empresário do ramo imobiliário Marco Silva Mott. O nome de Manga surgiu nas investigações após a quebra de sigilo bancário e fiscal de outros suspeitos.
A casa de Manga e a sede da Prefeitura de Sorocaba sofreram buscas da PF. Os agentes também foram à Secretaria da Saúde e ao diretório municipal do Republicanos.
Trata-se da terceira investigação envolvendo Manga. Ele já foi alvo de operações que apuram outros desvios na saúde e na compra de kits de robótica para estudantes.
Operação mira contratos da saúde
A operação tinha como objetivo desarticular uma organização suspeita de desvios de recursos públicos na área da saúde por meio de uma Organização Social (OS). Entre os alvos, está o prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga, e a OS Aceni, que fez a gestão da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Éden e, atualmente, faz a gestão da Unidade Pré-Hospitalar (UPH) Oeste. O presidente da Aceni também foi alvo da operação. Policiais cumpriram mandados em Socorro (SP).
O Instituto informou que aguarda acesso aos autos para que possa tomar conhecimento integral da operação e disse que todos os questionamentos feitos na investigação serão esclarecidos assim que se obter acesso aos autos. Já Manga diz que a ação da Polícia Federal faz parte de perseguição política.
Foram expedidos 28 mandados de busca e apreensão em 13 cidades do estado de São Paulo e da Bahia.
As equipes da Operação Copia e Cola estiveram na sede da Prefeitura Municipal de Sorocaba (SP), na casa e no gabinete do prefeito, na Secretaria de Saúde da cidade, no Diretório Municipal do partido e na casa do ex-secretário da saúde, Vinicius Rodrigues.
Eleito em 2020 para comandar a prefeitura depois de dois mandatos de vereador, Rodrigo Manga era vendedor de veículos em uma rede de lojas de Sorocaba. Ele começou a ficar popular ao aparecer em vídeos anunciando os veículos.
Com formação em marketing, ele ficou famoso e ganhou milhões de seguidores nas redes sociais ao investir em publicações sobre seu mandato e a cidade de Sorocaba com vídeos curtos e chamativos para a internet. Há posts com desinformação e que são questionados pelo Ministério Público. A popularidade de Manga cresceu e ele vinha recebendo vários convites para participar de programas de rádio e TV pelo país.
R$ 20 milhões bloqueados
Além do suposto envolvimento do ex-secretário Vinicius Rodrigues, está sendo investigada a participação do ex-secretário de Governo e Administração Fausto Bossolo, que deixou o governo em 2022.
Bossolo foi condenado na ação que investigou o superfaturamento de mais de R$ 10 milhões na compra do prédio particular que seria usado como sede da Secretaria de Educação (Seduc), no bairro Campolim, em Sorocaba.
O envolvimento do empresário Marco Silva Mott, amigo do prefeito, também é investigado pela polícia. Conforme apurado, ele é suspeito de ser lobista e de lavar dinheiro em diversos contratos da prefeitura. Na casa dele, foram apreendidos três carros nesta quinta-feira (10).
Mott também é investigado na área cível no caso da compra superfaturada do prédio da Seduc.
Foi determinado ainda, pela Justiça, o sequestro de bens e valores que totalizam R$ 20 milhões e a proibição da Organização Social (OS) investigada de ser contratada pelo poder público.
Em vídeo postado no Instagram após a operação, o prefeito disse não ter medo de nenhuma autoridade incomodada com sua ascensão e debochou da ação policial.
“Mandaram a Polícia Federal aqui em casa por causa da denúncia. E acharam algumas coisas aqui em casa: bolo de cenoura, Nutella, e o Pokémon quo meu filho tanto ama."
Em coletiva de imprensa nesta quinta-feira, após a operação da Polícia Federal, Manga comentou as acusações e os valores repassados para a organização social. Ele argumentou apenas que a investigação precisa acontecer que os serviços são fiscalizados.
Manga também disse que não sabe se ele é investigado na operação ou indiciado, e que a polícia levou apenas a cópia da chave do carro dele que estava no gabinete.
O prefeito também comentou sobre os objetos apreendidos. “Nenhuma daquelas imagens, nem dinheiro, nem Porsche, nem metralhadora, são da minha casa”, argumentou.
Rodrigo Manga se disse perseguido em função da sua ascensão nos últimos meses. Entretanto, ele comentou que a operação é legítima, mas que parte das forças policiais e da Justiça é eleitoreira, e que foi um ato político pontual. Também lembrou que a investigação é de 2022 e que, à época, foi aberto um procedimento para investigar o caso. Ainda conforme o prefeito, não há uma conclusão sobre os trabalhos.
O prefeito de Sorocaba também foi questionado sobre outros escândalos que ocorrem no seu governo, incluindo a compra de um prédio, com superfaturamento de R$ 10 milhões, já com sentença da Justiça, na qual dois secretários da gestão 2021/2024 foram condenados a prisão, e da compra de kits de robótica, no valor de R$ 26 milhões, em que, a pedido do MP, a Justiça bloqueou as contas de Rodrigo Manga.
Sobre isso, disse que os processos estão caindo e que o Tribunal de Contas julgou suas contas regulares. “Aquilo que está no poder público está sujeito a isso. Tá sujeito à exposição, tá sujeito a denúncias, e nós temos que superar isso.”
A Prefeitura de Sorocaba informou colaborar com as autoridades para a investigação e apontou ver "forças ocultas" que, segundo a nota, "se levantarem contra representantes que se projetam como uma alternativa ao sistema e dão voz ao povo" (veja a íntegra da nota ao final da reportagem).
O ex-secretário da saúde, Vinicius Rodrigues, declarou que não foi responsável por nenhuma das contratualizações entre a organização investigativa e a Prefeitura de Sorocaba e que, durante a sua gestão, a lei municipal determinava que qualquer contratação acima de R$ 1 milhão de reais fosse realizada diretamente pelo prefeito que administrava a cidade.
Os investigados poderão responder pelos seguintes crimes:
- corrupção passiva;
- corrupção ativa;
- ocultação de capitais (lavagem de dinheiro);
- peculato
- contratação direta ilegal;
- frustração de licitação.
Mais de 100 policiais federais cumprem mandados de busca e apreensão nos seguintes municípios:
- Sorocaba (SP);
- Araçoiaba da Serra (SP);
- Votorantim (SP);
- Itu (SP);
- São Bernardo do Campo (SP);
- São Paulo,
- Santo André (SP);
- São Caetano do Sul (SP);
- Santos (SP);
- Socorro (SP);
- Santa Cruz do Rio Pardo (SP);
- Osasco (SP);
- Vitória da Conquista (BA).
Investigação começou em 2022
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PF apreende armas durante operação em cidades de São Paulo — Foto: Polícia Federal/Divulgação |
Conforme a PF, a investigação teve início no ano de 2022, após suspeitas de fraudes na contratação da Organização Social (OS), Instituto de Atenção à Saúde e Educação (Aceni), para administrar, operacionalizar e executar ações e serviços de saúde em Sorocaba.
A OS fez a gestão da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Éden e, atualmente, faz a gestão da Unidade Pré-Hospitalar (UPH) Oeste.
A Polícia Federal também investiga a suspeita de lavagem de dinheiro, por meio de depósitos em dinheiro, pagamento de boletos e negociações imobiliárias.
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PF apreende carros de luxo durante operação em cidades de SP — Foto: Polícia Federal/Divulgação |
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