Quarta-feira, (11) de dezembro de 2024
Bolsonaro, o bolsonarista Neto e suas relações nada republicanas: a interferência do presidente nas decisões do Copom é vedada pela autonomia do BC |
A alta já era esperada por economistas, mas abaixo da que foi anunciada. A previsão de alta de 0,75 ponto –a maior desde maio de 2022– foi, inclusive, registrada no Boletim Focus do BC, que compila expectativas de bancos para a economia nacional. A elevação marca ainda o final do mandato de Roberto Campos Neto à frente do Copom e do BC. Quando ele assumiu a chefia do órgão, em 2019, a Selic estava em 6,5% ao ano. Chegou a baixar a 2% ao ano em 2020 – a mais baixa já registrada na história. Porém, voltou a subir durante a pandemia e, depois, durante este ano.
Campos Neto foi nomeado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Tornou-se o segundo presidente do BC mais longevo da história, já que a autonomia do órgão lhe garantiu mandato mesmo após a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A alta da Selic está ligada ao aumento da inflação. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 12 meses chegou a 4,87% em novembro. Está, portanto, acima da meta para 2024, de até 4,5%.
O que é Selic?
A taxa Selic é referência para a economia nacional. É também o principal instrumento disponível para o BC controlar a inflação no país. Quando ela sobe, empréstimos e financiamentos tendem a ficar mais caros. Isso desincentiva compras e investimentos, o que contém a inflação. Em compensação, o crescimento econômico tende a ser prejudicado.
Já quando a Selic cai, os juros cobrados de consumidores e empresas ficam menores. Há mais gente comprando e investindo. A economia cresce, criando empregos e favorecendo aumentos de salários. Os preços, por sua vez, tendem a aumentar por conta da demanda. Lula, aliás, vem criticando Campos Neto desde que voltou à presidência. Lula escolheu o ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, para assumir o posto de Campos Neto a partir de 2025, esperando manter melhor relação com o BC.
Gasto com dívida
A Selic também é a taxa de referência para a correção da dívida pública nacional. Quando ela sobe, o governo gasta mais para renovar os empréstimos que ele toma no mercado. Em outubro, o setor público gastou R$ 111,6 bilhões só com os serviços financeiros da dívida. Isso é 80% mais do que os R$ 61,9 bilhões gastos em outubro de 2023. Em 12 meses, o gasto com a dívida chegou R$ 869,3 bilhões. Nos 12 meses anteriores, ele havia sido R$ 720,1 bilhões.
Com o aumento da Selic, o gasto do Brasil com o pagamento de suas dívidas deve crescer cerca de R$ 40 bilhões durante um ano. Um estudo divulgado pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) neste ano aponta que o Brasil gasta com juros quase o dobro do que Educação e Saúde juntos. Os países mais ricos gastam com juros só 40% do que investem em saúde e educação. Segundo o estudo, 3,3 bilhões de pessoas no mundo vivem em países que gastam mais com os juros do que com serviços públicos de saúde e educação. Isso corresponde a cerca de 40% da população mundial.
Aumento da Selic preocupa pequenos negócios, afirma Sebrae
Sebrae acompanha atentamente o movimento do mercado e pede apoio para o crescimento do empreendedorismo no país |
Esse já é o terceiro aumento consecutivo da Selic. A taxa retornou ao nível de dezembro do ano passado, quando estava em 12,25% ao ano. As alterações na taxa básica de juros impactam diretamente os custos de empréstimos e financiamentos. “Isso influencia as decisões de consumo da população, além de impactar os investimentos das empresas, principalmente dos pequenos negócios”, argumenta o presidente do Sebrae, Décio Lima. “Uma economia não é feita só de números, mas de comportamento. É preciso prestar muita atenção aos sinais do mercado, no aquecimento das vendas e na queda do preço de produtos e serviços para fazer uma decisão justa para a população brasileira”, avaliou o dirigente.
Peso no bolso
De acordo com levantamento do Sebrae, com base em dados do Banco Central, a taxa de juros em empréstimo para um microempreendedor individual (MEI) fica, na média nacional, mais que quatro vezes maior que a Selic. No caso dos MEI da região Nordeste, esse valor chega até 51% ao ano. O Sebrae tem atuado junto ao governo federal, no Programa Acredita, para ampliar o acesso das micro e pequenas empresas a crédito. Por meio do Fundo de Aval para Micro e Pequena Empresa (Fampe), cerca de 30 instituições bancárias estão aptas a ofertar os recursos. Nos próximos três anos, estão previstas o aval de R$ 30 bilhões em operações de crédito.