'QUATRO LINHAS DA CONSTITUIÇÃO É O CARA***', 'GUERRA CIVIL', 'INFLAMAR A MASSA': OUÇA ÁUDIOS DA TRAMA CRIMINOSA DOS GOLPISTAS

Investigação da PF apontou que militares articularam plano que envolvia conspiração para matar o presidente Lula, o vice, Geraldo Alckmin, e o ministro do STF Alexandre de Moraes.
Terça-feira, (26) de novembro de 2024
A investigação da Polícia Federal (PF) sobre a trama golpista após o segundo turno das eleições de 2022 obteve áudios de militares discutindo os preparativos para o plano. A TV Globo teve acesso a 55 áudios que circulavam em grupos de militares de alta patente. Confira trechos mais abaixo.

Segundo a PF, o general da reserva Mario Fernandes, ex-número 2 da Secretaria-Geral da Presidência, foi o articulador do plano, que envolvia uma conspiração para matar o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva; o vice, Geraldo Alckmin; e o ministro do STF Alexandre de Moraes.

Na quinta-feira (12), a PF indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras 36 pessoas pelos crimes de tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa. Os áudios a seguir são de conversas ocorridas após o segundo turno das eleições de 2022.

Confira abaixo o que disseram os militares:

Ouça:
'Quatro linhas da Constituição é o c*'
O coronel Reginaldo Vieira de Abreu, em uma das conversas com o general Mário Fernandes, justificou a necessidade de um golpe de Estado porque o país estava em guerra e os adversários estavam vencendo.

“O senhor me desculpe a expressão, mas quatro linhas é o c*. Nós estamos em guerra, eles estão vencendo, está quase acabando e eles não deram um tiro por incompetência nossa”, afirmou.

Ouça:
'Guerra civil agora ou guerra civil depois'
O general da reserva e ex-número 2 da Secretaria-Geral da Presidência da República, Mario Fernandes, recebeu um áudio do general-de-brigada da reserva Roberto Criscuoli, em 29 de novembro de 2022, discutindo abertamente a possibilidade de uma "guerra civil".

"Se nós não tomarmos a rede agora, depois eu acho que vai ser pior. Na realidade vai ser guerra civil agora ou guerra civil depois. Só que a guerra civil agora tem um significativo, o povo tá na rua, nós temos aquele apoio maciço. Daqui a pouco nós vamos entrar numa guerra civil, porque daqui a alguns meses esse cara vai destruir o Exército, vai destruir tudo", disse.

'Inflamar a massa'
Segundo a investigação, os acampamentos em frente aos quartéis no fim de 2022 faziam parte de um movimento orquestrado pelos militares e que o general Mário Fernandes se comunicava frequentemente com esses grupos.

“Talvez seja isso que o alto comando, que a defesa quer: o clamor popular, como foi em 64. Nem que seja pra inflamar a massa, para que ela se mantenha nas ruas”, disse.

'Segurar a PF'
Mensagens de voz do general Mário Fernandes mostram que o militar pediu ao então ajudante de ordens Mauro Cid que Bolsonaro conversasse com o Ministério da Justiça sobre a possibilidade de "segurar" as ações da PF no acampamento golpista montado em frente ao QG do Exército.

"Os caras não podem agir, a área é militar, mas, p*, já andou havendo prisão realizada ali pela Polícia Federal. Então, p*, seria importante, se o presidente pudesse dar um 'input' ali pro Ministério da Justiça, pra segurar a PF, né? Ou, p*, pra Defesa alertar o CMP, que, p*, não deixa. Os caminhões estão dentro de área militar", afirmou.

'Vou conversar com o presidente'
Em outro áudio, o tenente-coronel Mauro Cid relata conversa com o então presidente Jair Bolsonaro sobre o golpe de Estado.

"Vou conversar com o presidente [Bolsonaro]", disse Cid. "O negócio é que ele tem essa personalidade às vezes. Ele espera, espera, espera, espera pra ver até onde vai, ver os apoios que tem. Só que às vezes o tempo está curto, não dá pra esperar muito mais passar. Dia 12 seria... Teria que ser antes do dia 12, mas com certeza não vai acontecer nada", relatou.

'Quebrar cristais'
O general da reserva Mário Fernandes também aparece em um diálogo com Marcelo Câmara, então assessor de Jair Bolsonaro, disposto a enfrentar as consequências de um golpe de Estado.

“Qualquer solução, caveira, tu sabe que ela não vai acontecer sem quebrar ovos, sem quebrar cristais”, afirmou.

Ouça:
'Qualquer ação pode acontecer até 31 de dezembro'
Em um outro áudio, o general Mário Fernandes disse que teve uma conversa com o então presidente Jair Bolsonaro, sobre a diplomação da chapa Lula e Alckmin, no TSE.

Ouça:
“Durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo, não seria uma restrição? Qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro. Tudo. Mas aí na hora: pô, presidente. A gente já perdeu tantas oportunidades”, mostra o áudio.

No dia 12 de dezembro, data da diplomação, manifestantes tentaram invadir o prédio da PF e incendiaram carros e ônibus em Brasília.

Ouça:
'Três [oficiais] querem muito'
Em uma troca de mensagens com o general Mário Fernandes, o coronel reformado Reginaldo Vieira de Abreu afirmou que havia uma divisão entre os generais que comandavam a força sobre aderir ou não à tentativa de golpe de Estado.

"Kid Preto, cinco não querem, três querem muito e os outros, zona de conforto. É isso. Infelizmente. E a lição que a gente deu para a esquerda é que o alto comando ele tem que acabar", disse.

Ouça:
'Bota o Braga Netto lá'
O general Mário Fernandes, em conversa com o Marcelo Câmara, então assessor de Bolsonaro, em 10 de novembro de 2022, tratou da ideia de tirar o general Paulo Sérgio Nogueira e colocar o general Braga Netto no Ministério da Defesa.

Braga Netto, que foi vice na chapa derrotada de Bolsonaro, é apontado por fontes da Polícia Federal como o principal arquiteto do plano de golpe para manter o ex-presidente no poder mesmo com derrota na eleição de 2022.

"Ontem, falei com o presidente. P*, cara, eu tava pensando aqui, sugeri o presidente até, p*, ele pensar em mudar de novo o MD [Ministério da Defesa], porra. Bota de novo o General Braga Netto lá. General Braga Netto tá indignado, p*, ele vai ter um apoio mais efetivo", diz Fernandes ao auxiliar do ex-presidente.

Ouça:
Por Ederson Hising, g1 — São Paulo

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