Sábado, (09) de novembro de 2024
O presidente russo, Vladimir Putin, propôs a extensão do mandato de Dilma Rousseff à frente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), também conhecido como Banco do BRICS, por mais cinco anos. A proposta, feita durante a 16ª Cúpula de Chefes de Estado do BRICS em Kazan, reflete a confiança de Putin na liderança de Dilma, reconhecendo sua contribuição para enfrentar a hegemonia do dólar e promover a agenda geopolítica do bloco. As informações foram divulgadas pela Sputnik Brasil.
Segundo analistas ouvidos pela Sputnik, a atuação de Dilma à frente do banco tem sido alinhada com as prioridades das lideranças russa e chinesa. Bruno de Conti, professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), destacou que a ex-presidente "compartilha a percepção dos desafios geopolíticos que o Sul Global enfrenta hoje". Para ele, a agenda de desdolarização promovida por Dilma é um ponto de convergência que agrada tanto a Putin quanto a Xi Jinping.
"A meta de atingir 30% dos empréstimos em moedas nacionais está estabelecida na carta original do banco, mas ainda não foi atingida. Desde a sua posse, Dilma tem mostrado preocupação com essa agenda", explicou De Conti, reforçando que o foco em moedas locais ajuda a reduzir a dependência do dólar e aumenta a resiliência dos países-membros.
Contexto e desafios no Banco do BRICS
A presidência de Dilma Rousseff no NBD marcou uma retomada das diretrizes originais da instituição, que visam oferecer uma alternativa de financiamento para países do Sul Global. Seu mandato também é uma continuidade de sua política externa enquanto presidente do Brasil, período em que foi uma das signatárias fundadoras do banco. Essa experiência deu a Dilma um entendimento aprofundado dos objetivos estratégicos do BRICS, fortalecendo seu papel na liderança.
Contudo, a dependência do banco de estruturas do mercado financeiro tradicional, como as notas das agências internacionais de rating, ainda representa um desafio. "O Banco ainda depende do mercado de capitais internacional. Caso as agências de rating diminuam a nota do banco, ele terá que captar recursos pagando taxas mais altas. Então vemos claramente aqui a armadilha do dólar", comentou De Conti, sugerindo que a criação de uma agência de rating própria do BRICS seria um passo importante rumo à independência financeira.
Dilma e a expansão do BRICS
Outro ponto de destaque na gestão de Dilma foi a ampliação do número de membros do NBD. Em setembro de 2024, a Argélia aderiu ao banco, reforçando o papel da ex-presidente na promoção de um BRICS mais inclusivo e representativo do Sul Global. "Dilma tem repetidamente se manifestado em favor do alargamento do BRICS e, durante a Cúpula de Kazan, enfatizou a importância do NDB ser um banco para os países do Sul Global", comentou De Conti.
A manutenção de Dilma na presidência do banco também é vista como uma estratégia para mitigar os impactos das sanções econômicas impostas contra a Rússia. "A Rússia quer muito que o NDB avance e, por isso, não quer transferir a problemática das sanções para o banco", afirmou Maria Elena Rodriguez, pesquisadora do BRICS Policy Center.
A proposta de Putin para a extensão do mandato de Dilma Rousseff no NBD evidencia a confiança das lideranças do BRICS em sua capacidade de conduzir o banco em um momento de desafios geopolíticos e econômicos significativos. A continuidade de seu trabalho promete fortalecer a agenda de desdolarização, expandir a participação de novas nações e consolidar o papel do BRICS como uma alternativa ao sistema financeiro global dominado pelo dólar.