Bolsonaro estimulou violência golpista em Brasília, relembre fatos. Relatório da PF aponta que Bolsonaro era o pivô do golpe contra a democracia. O ex-ocupante do Palácio do Planalto era o principal dirigente e executor do golpe
Quarta-feira, (27) de novembro de 2024
Na imagem, o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), falando a apoiadores no Palácio do Alvorada - Foto: Reprodução |
A conclusão está no relatório no qual a PF indiciou Bolsonaro e mais 36 acusados por golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito. O sigilo foi derrubado nesta terça-feira (26) pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator do chamado inquérito do golpe.
Na avaliação dos investigadores responsáveis pela conclusão do inquérito, a difusão de "forma rápida e repetitiva" de narrativas golpistas mantiveram o desejo de grupos extremistas de consumação do golpe que teria sido planejado pelo ex-presidente e seus aliados, mas não foi aplicado pela falta de adesão do Exército e da Aeronáutica.
"Esse método de ataques sistemáticos aos valores mais caros do Estado democrático de direito criou o ambiente propício para o florescimento de um radicalismo que, conforme exposto, culminou nos atos do dia 8 de janeiro de 2023, mas que ainda se encontra em estado de latência em parcela da sociedade, exemplificado no atentado bomba ocorrido na data de 13 de novembro de 2024 na cidade de Brasília", diz a PF.
Além do atentado do dia 13 deste mês e os atos de 8 de janeiro, a PF citou a tentativa de invasão da sede da Polícia Federal, ocorrida em Brasília, no dia 12 de dezembro de 2022; e a tentativa de explosão de um caminhão-tanque no aeroporto de Brasília no dia 24 de dezembro daquele ano.
Bolsonaro
No relatório, os investigadores afirmam ainda que Jair Bolsonaro atuou de "forma direta e efetiva" nos atos executórios para tentar um golpe de Estado em 2022.
"Os elementos de prova obtidos ao longo da investigação demonstram de forma inequívoca que o então presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva dos atos executórios realizados pela organização criminosa que objetivava a concretização de um golpe de estado e da abolição do estado democrático de Direito, fato que não se consumou em razão de circunstâncias alheias à sua vontade", diz o relatório.
Segundo a PF, Bolsonaro tinha conhecimento do chamado Punhal Verde e Amarelo, plano elaborado pelos indiciados com o objetivo de sequestro ou homicídio do ministro Alexandre de Moraes, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do vice-presidente Geraldo Alckmin.
Tanques
Conforme a PF, o almirante Almir Garnier, então comandante da Marinha, anuiu com a articulação golpista, colocando as tropas à disposição do então presidente Jair Bolsonaro.
O plano de golpe de Estado não foi consumado por falta de apoio dos comandantes do Exército e da Aeronáutica.
"Lula não sobe a rampa"
Um documento manuscrito apreendido pela Polícia Federal (PF) na sede do Partido Liberal (PL) propõe ações para interromper o processo de transição de governo, “mobilização de juristas e formadores de opinião”.
O documento encerra com o texto “Lula não sobe a rampa”. Segundo a PF, em uma clara alusão ao impedimento de que o vencedor das eleições de 2022 assumisse o cargo da presidência.
O material foi apreendido na mesa do assessor do general Walter Braga Netto, coronel Peregrino, faz um esboço de ações planejadas para a denominada “Operação 142”. O nome dado ao documento faz alusão ao artigo 142 da Constituição Federal que trata das Forças Armadas e que, segundo a PF, era uma possibilidade aventada pelos investigados como meio de implementar uma ruptura institucional após a derrota eleitoral de Bolsonaro.
PGR
Após a retirada do sigilo, o inquérito do golpe foi enviado para a Procuradoria-Geral da República (PGR). Com o envio do relatório, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, vai decidir se o ex-presidente e os demais acusados serão denunciados ao Supremo pelos crimes imputados pelos investigadores da PF.
Bolsonaro era o pivô do golpe contra a democracia
O papel central da trama golpista desvendada pela investigação da Polícia Federal, é o ex-presidente Jair Bolsonaro, que seria beneficiado com o golpe de Estado. O nome de Jair Bolsonaro é citado 643 vezes no documento.
A investigação da PF coloca Bolsonaro como planejador, dirigente e executor dos atos que levariam ao golpe de Estado, mostra o G1 em reportagem. Um dos trechos do relatório afirma: "tinha plena consciência e participação ativa" nas ações do grupo. A PF também diz que Bolsonaro tinha "domínio" dos atos executados.
"Os elementos de prova obtidos ao longo da investigação demonstram, de forma inequívoca, que o então presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva dos atos executórios realizados pela organização criminosa que objetivava a concretização de um golpe de Estado e a abolição do Estado Democrático de Direito. O fato, contudo, não se consumou em razão de circunstâncias alheias à sua vontade", escreveu a polícia.
O grupo investigado atuou de maneira coordenada desde 2019, a partir de falsas narrativas como, por exemplo, a de que o sistema eletrônico de votação no Brasil seria vulnerável a fraudes.
Desde então, oficiais, militares e assessores se reuniam para discutir estratégias para o golpe de Estado a mando de Bolsonaro. E, embora o ex-presidente não apareça como integrante de nenhum dos seis núcleos desenhados pela PF, é apontado pelos investigadores como beneficiário das ações do grupo, já que a finalidade seria mantê-lo no poder.
“A investigação identificou um plano, adaptado da doutrina militar, para evasão e fuga do então presidente da República Jair Bolsonaro do país, caso seu ataque ao poder Judiciário e ao regime democrático sofresse algum revés que colocasse sua liberdade em risco”, diz um trecho do documento.
Bolsonaro estimulou violência golpista em Brasília; relembre
O presidente Jair Bolsonaro (PL) estimulou os manifestantes antidemocráticos que atacaram, na noite de segunda-feira (12), a sede da Polícia Federal em Brasília em protesto contra a prisão do cacique Sererê Xavante, um dos lideres dos atos golpistas no Distrito Federal. Sem reconhecer a derrota nas eleições presidenciais para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-capitão do Exército fez uma série de sinalizações aos manifestantes nos últimos dias.
Diante da proximidade da posse do petista e da realização cerimônia de diplomação de Lula e de seu vice Geraldo Alckmin (PSB), que ocorreu na segunda (12), no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bolsonaro acelerou a emissão de recados cifrados que colaboraram com o caos que se instalou em Brasília. Vídeos publicados nas redes sociais mostram bolsonaristas em atos violentos contra a PF e contra o patrimônio público.
Abertura do Palácio da Alvorada na véspera da diplomação
Com o objetivo de tumultuar a diplomação de Lula, Bolsonaro abriu os portões do Palácio do Alvorada para apoiadores golpistas que se encontravam em frente à residência oficial do Presidente da República na madrugada de segunda-feira (12), mesma data em que ocorreu a diplomação do presidente eleito. Em vídeos publicados nas redes sociais e em grupos de aplicativos de apoio a Bolsonaro, os golpistas aparecem entrando no gramado do Alvorada e incitando outros apoiadores para dirigirem ao local.
Primeira-dama entrega lanche a manifestantes pró-golpe
Segundo os manifestantes bolsonaristas, a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, teria mandado "lanchinho" e refrigerante aos apoiadores do ex-capitão que chegavam no gramado em frente ao Palácio da Alvorada. Em grupos de Telegram, Bolsonaro aparece com os mesmos copos descartáveis enviados aos golpistas. A atitude foi apontada como uma mensagem cifrada para convocar apoiadores radicais.
Golpistas ganham refúgio nas dependências do Alvorada
Na noite de segunda (12), enquanto os manifestantes mais exaltados, de volta ao centro da cidade, chegaram a tocar fogo em carros e ônibus e atacavam o prédio da Polícia Federal, o blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio, que já foi preso mais de uma vez, fez o caminho inverso: segundo seu advogado, pediu e obteve refúgio no Palácio da Alvorada, a residência oficial de Bolsonaro.
Cacique fez discurso golpista em frente ao presidente
O pastor José Acácio Serere Xavante, cacique da etnia xavante, aparece em um vídeo que tem circulado nas redes sociais afirmando que Lula não tomará posse como presidente e chamando o PT de “quadrilha”. A fala precedeu o discurso que Bolsonaro fez a apoiadores, na sexta-feira (9), no Palácio da Alvorada, o primeiro após ser derrotado na eleição presidencial. O indígena está em Brasília desde o fim de novembro e já proferiu outros discursos de teor golpista.
Bolsonaro quebrou silêncio em discurso dúbio
Quarenta dias após a derrota nas urnas para Lula, Bolsonaro discursou, na tarde da última sexta-feira (9), a apoiadores que defendiam sua permanência no comando do país, em tom dúbio. Na fala que durou cerca de 15 minutos, Bolsonaro voltou a dizer que seu governo “despertou o patriotismo no Brasil”, colocou-se na posição de adversário do “sistema”, buscou dar explicações pelo longo (e muitas vezes criticado) silêncio e disse novamente que o país vive “uma encruzilhada”.