Policiais apreenderam mais de R$ 70 mil na casa de um assessor. Além de falsidade ideológica e falsificação de documentos, os delitos em investigação incluem associação criminosa e peculato
Sexta-feira, (25) de outubro de 2024
Na manhã desta sexta-feira (25), a Polícia Federal deflagrou uma operação para investigar desvios de verba pública envolvendo o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO). A operação, batizada de "Discalculia", busca elucidar o uso indevido de recursos da cota parlamentar, que, segundo Camila Bomfim, do g1, teriam sido empregados para sustentar empreendimentos privados. O Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou 19 mandados de busca e apreensão, cumpridos em Brasília e em quatro cidades goianas: Cidade Ocidental, Valparaíso, Aparecida de Goiânia e Goiânia.
As investigações preliminares da Polícia Federal apontam que Gayer, junto a assessores, teria se associado para criar uma organização social com o objetivo de desviar recursos. Em uma das evidências coletadas, a PF destaca a descoberta de uma ata falsificada nos documentos de criação da entidade, listando até mesmo crianças entre um e nove anos como membros do quadro social. Além de falsidade ideológica e falsificação de documentos, os delitos em investigação incluem associação criminosa e peculato.
A operação também revela uma suposta rede de corrupção onde o uso da cota parlamentar, destinada exclusivamente a atividades relacionadas ao exercício do mandato, foi desviado para benefício pessoal e privado. A Polícia Federal segue investigando o caso e ainda não divulgou detalhes completos sobre os envolvidos, nem os valores que teriam sido desviados através da entidade criada pelo parlamentar e seus assessores.
Gustavo Gayer, que é deputado pelo estado de Goiás e figura de destaque em seu partido, o PL, ainda não se manifestou oficialmente sobre as acusações.
Polêmico
Alvo de uma operação da Polícia Federal, nesta sexta-feira (25), por suposto desvio de recursos públicos, o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) acumula denúncias de racismo, divulgação de fake news e suposto assédio eleitoral durante a campanha presidencial de 2022. Em um dos episódios mais recentes, o bolsonarista foi intimado pela ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), por ataques ao ex-ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, e injúria ao presidente Lula (PT).
O bolsonarista foi processado por uma fala que proferiu durante uma entrevista a um podcast em junho do ano passado. Na ocasião, o apresentador do programa, Rodrigo Arantes, comparou o QI da população da África ao de macacos.
Após a repercussão, as deputadas federais do PSOL Erika Hilton (SP), Luciene Cavalcante (SP), Célia Xakriabá (MG) e Talíria Petrone (RJ) acionaram a Procuradoria-Geral da República (PGR), que ofereceu denúncia ao STF em novembro do ano passado. Na peça encaminhada ao STF, a PGR afirma que Gayer induziu e incitou “a discriminação e o preconceito de raça, cor e procedência nacional”.
A defesa de Gayer emitiu uma nota em que disse que a denúncia não havia "qualquer conexão lógica".
Associação de nordestinos a galinhas
Em junho, também viralizou em perfis de esquerda uma fala do deputado associando nordestinos a uma galinha que se contenta em receber "migalhas". A declaração foi dada durante um evento de educação na Bahia, realizado em maio. Na ocasião, o parlamentar bolsonarista relatou uma parábola difundida em perfis conservadores e de direita sobre uma galinha que é depenada por Josef Stalin na União Soviética e, mesmo assim, ao ser solta e lhe oferecerem farelos, o animal volta e corre atrás dele. Para Gayer, os governos de esquerda "fizeram com o Nordeste o que Stalin fez com a galinha", se referindo a programas de renda.
Condenação por assédio eleitoral
Em dezembro do ano passado, o deputado foi condenado pela 7ª Vara do Trabalho de Goiânia a pagar R$ 80 mil por suposto assédio eleitoral durante a campanha presidencial de 2022. O parlamentar é acusado de ter ido a empresas do estado para coagir trabalhadores a votarem no ex-presidente e seu correligionário, Jair Bolsonaro. A defesa de Gayer afirmou que ele esteve nos empreendimentos à convite de empresários para explicar o plano de governo dos candidatos e negou pedidos de voto expresso.
A condenação ocorreu após o Ministério Público do Trabalho (MPT) ter aceitado uma denúncia anônima contra o deputado. De acordo com a procuradora Janilda Guimarães de Lima, Gayer apresentou "conduta acintosa e de total desrespeito ao ordenamento jurídico e pretensão de continuar utilizando-se de organizações comerciais (empresas) para fazer propaganda eleitoral e aliciar votos de seus trabalhadores ,através de assédio moral eleitoral, com apoio de empresários".
Em seu pronunciamento nas redes sociais, o bolsonarista chamou a procuradora de "petista histérica" e caracterizou seu parecer como "esdrúxulo". A procuradora alega que ele esteve nos empreendimentos durante o expediente e cometeu ilegalidades.
Conta suspensa no X
Ainda no ano passado, Gayer teve sua conta no X suspensa por decisão judicial após divulgar nas redes sociais uma live feita por um argentino, amigo do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), em que ele faz acusações infundadas sobre as urnas eletrônicas.
Apos ter a conta suspensa, Gayer divulgou um vídeo em sua conta no Intagram em que diz que não vai parar, "mesmo que que derrubem todas as minhas redes, eu pego o megafone e vou para a rua e critica a Supremo Tribunal Federal (STF).
PF faz busca e apreensão
| Dinheiro encontrado com assessor do deputado federal Gustavo Gayer — Foto: PF/Divulgação |
A Polícia Federal apreendeu R$ 72 mil em espécie na casa de um assessor do deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) em uma operação que apura suspeita de desvio de recursos públicos oriundos de cota parlamentar. A corporação realiza nesta sexta-feira buscas em endereços do deputado, que é alvo da operação.
Conforme a polícia, uma associação criminosa é suspeita de desviar recursos públicos e destiná-los para uma Organização de Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), entidade privada de interesse público criada pelo grupo por meio de documentos falsos.
Estão sendo cumpridos 19 mandados de busca e apreensão, expedidos pelo Supremo Tribunal Federal, em Brasília, Cidade Ocidental (GO), Valparaíso de Goiás (GO), Aparecida de Goiânia (GO), e Goiânia.
A investigação chegou a identificar a falsificação na Ata de Assembleia da constituição da OSCIP. O documento possuía data retroativa, o que faria com que o quadro social da organização fosse formado por crianças de 1 a 9 anos. A polícia aponta suspeita dos crimes de associação criminosa, falsidade ideológica, falsificação de documento particular e peculato.

