Sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021
"Em nome de Jesus", disse um pastor enquanto gravava a si mesmo quebrando peças sagradas de uma religião distinta da que ele segue enquanto proferia estas palavras de sua própria crença, alegando ainda que, ao destruir aqueles itens, também estaria desfazendo uma "maldição". O material era do Candomblé e havia sido posto em oferenda a Maria Mulambo na manhã do último domingo, dia 7, em uma área descampada, no alto de uma colina, no bairro de Shangrilá, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense.
Diante das imagens postadas em rede social pelo agressor, identificado como Gledson Lima, da Igreja Tenda dos Milagres, o babalorixá Natan de Oxaguiã, do Ilê Àsé Babá Min Okan Fun Fun, registrou ocorrência na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) nesta quarta-feira, dia 10.
"Os alimentos nos alguidares, as bebidas são oferecidos como presentes, em agradecimento à ancestralidade, portanto, são sagrados", explicou o pai de santo, cujo terreiro foi aberto há pouco mais de um ano. "A postura dele acaba por exercer influência diante de outros, que não conhecem a religião e não aprendem a respeitar".
Natan contou que tomou conhecimento da destruição dos materiais na terça-feira, dia 9, e sentiu-se indignado. Ao procurar o pastor, o evangélico lhe teria dito que "ficou incomodado" porque a oferenda "estava próxima da entrada do seu sítio". No entanto, o pai de santo ressaltou ter refeito o trajeto entre o ponto da oferenda e a entrada da propriedade do pastor e verificou que a distância era de aproximadamente meio quilômetro.
O babalawô Ivanir dos Santos, interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), repudiou o episódio.
"Até quando? O que ainda precisa acontecer para frear atos como esses? Estão mexendo com nosso sagrado. De onde vem toda essa violência?", desabafou o religioso.
A informação foi publicada pelo jornal Extra.
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