Sete médicos e autoridades alertam: nenhuma bebida é 100% segura. Destilados têm maior risco de adulteração com metanol.
Sexta-feira, (03) de outubro de 2025
Enquanto o Brasil realiza investigações sobre adulteração de bebidas com metanol, sete médicos e autoridades ouvidos pelo g1 reforçam: não há consumo 100% seguro, embora cerveja e vinho estejam menos vulneráveis. Abaixo, veja todas as análises e considere um consenso: qualquer consumo deve ser evitado quando não há garantia da procedência.
SUA DÚVIDA
Esta reportagem foi redigida para responder uma pergunta sobre o metanol que se repetia: "é seguro beber cerveja, vinho e chope?".
Até agora, o uso de metanol na higienização de garrafas é a principal linha de investigação da polícia para as intoxicações.
RESUMO DAS ANÁLISES:
- Evite destilados: são os mais vulneráveis à adulteração com metanol.
- Cerveja e vinho têm menor risco, mas não estão totalmente livres.
- Cerveja em lata é mais protegida, por ser difícil de adulterar.
- Verifique a procedência: cheque rótulo, registro e origem.
- Padrões mais rígidos de produção e segurança estão presente nas grandes indústrias.
- Casos raros já atingiram fermentados, como a contaminação de cervejas em 2020.
- Consenso médico e oficial: nenhuma bebida é 100% segura neste momento.
Destilados em alerta
Luis Fernando Penna, gerente médico do Pronto Atendimento do Hospital Sírio-Libanês, ressalta que os destilados são os mais vulneráveis à adulteração com metanol. Já bebidas como cerveja, vinho e chope tendem a ser mais seguras, mas não estão livres de riscos.
“Não existe uma bebida totalmente segura, mas cerveja, vinho e chope apresentam menor chance de contaminação com metanol. O vinho tem um processo de fabricação diferente dos destilados, não é impossível adulterar, mas é menos provável. (...) O ponto central é que, neste momento de crise, não há bebida 100% segura. Trata-se de um problema muito grave, com risco real de morte. Até que as investigações avancem, a recomendação é não consumir.”
Cerveja em lata como menor risco
Para Renato Anghinah, neurologista da USP, a lógica econômica e a forma de envase tornam cerveja e vinho menos atraentes para fraudadores. Ainda assim, a recomendação é de cautela.
“Do ponto de vista econômico, não compensa para o fraudador adulterar (o vinho e a cerveja) com metanol, já que o custo da diluição seria muito alto. Além disso, bebidas em lata oferecem uma camada extra de proteção, por serem mais difíceis de adulterar. Entre as opções disponíveis, a cerveja em lata aparece como a escolha de menor risco. O ideal, no entanto, continua sendo não consumir bebidas alcoólicas durante este período de insegurança, a não ser que se tenha certeza da procedência.”
Orientação oficial
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, reforçou na quinta-feira (2) a recomendação de evitar principalmente os destilados, sobretudo os incolores, destacando que não são produtos essenciais.
“Recomendo na condição de ministro da Saúde, mas também como médico: evite, neste momento, ingerir um produto destilado, sobretudo os incolores, que você não tem a absoluta certeza da origem dele. Não estou falando de um produto essencial para a vida das pessoas, um produto da cesta básica. É um produto que é objeto de lazer. Não faz problema nenhum na vida de ninguém evitar o consumo desses destilados.”
Risco menor, mas existente
Para Olivia Pozzolo, psiquiatra e pesquisadora do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), o risco maior está nos destilados, mas nem mesmo vinho, cerveja e chope podem ser considerados totalmente seguros.
“No momento, não é possível garantir com absoluta segurança nenhum tipo de bebida alcoólica. Para bebidas como cerveja, chope e vinho, o risco de adulteração com metanol é considerado mais baixo. Ainda assim, recomenda-se sempre verificar a procedência, rótulo e se o produto tem registro regularizado.”
Casos já registrados
A médica intensivista Patrícia Mello lembra que a história recente mostra que até mesmo cervejas já estiveram associadas a contaminações químicas graves.
“Lembro que em janeiro de 2020 houve contaminação, intoxicação similar e mortes em cervejaria de Belo Horizonte em casos similares com etileno glicol. O grande problema é que não podemos garantir segurança, pois não sabemos ainda o que houve. O que podemos afirmar é que até agora os casos identificados foram vinculados a bebidas alcoólicas destiladas.”
Adulteração e falhas de produção
O hepatologista Raymundo Paraná, professor titular de gastro-hepatologia da Universidade Federal da Bahia, explica que o metanol pode estar presente nas bebidas por duas razões principais: adulteração intencional, mais comum em destilados falsificados, ou falhas durante o processo de produção. Ele lembra que casos raros já ocorreram até mesmo com cervejas, mas destaca que grandes fabricantes, com processos regulatórios rígidos, oferecem menor risco.
“Então, eu sinceramente não vejo dificuldades em relação à cerveja e em relação ao vinho. Acho que em situações como essa teria que ser uma manipulação grosseira ou uma grande fraude, exceto nesses raros casos onde existe contaminação da cerveja em função de vazamento do fluido anticongelante, como já ocorreu. De qualquer maneira, o que eu mencionei que ocorreu foi numa empresa regional, não em grandes fábricas, em grandes marcas de alcance nacional e internacional. Essas eu acho que são mais seguras, têm processos mais seguros”, afirma.
Complexidade das bebidas fermentadas
O professor André Ricardo Alcarde, especialista em ciência e tecnologia de bebidas da ESALQ/USP, ressalta que a adulteração com metanol é improvável em bebidas fermentadas como cerveja e vinho, pela própria complexidade do produto. No caso da cachaça, quando feita dentro das Boas Práticas de Fabricação, o risco é considerado praticamente inexistente.
“No momento, cautela. Porém, na minha opinião, as bebidas fermentadas citadas são mais difíceis de sofrerem adulteração com metanol pela maior complexidade da bebida. Com relação à cachaça, quando produzida seguindo as Boas Práticas de Fabricação, nunca apresentarão problema de contaminação com metanol", afirma Alcarde.
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