Enquanto os EUA articulados com a família Bolsonaro atacam o Brasil com tarifas, a China abre as portas e fortalece relações
Sábado, (09) de agosto de 2025
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Presidente Lula e o Presidente da República Popular da China, Xi Jinping no Palácio do Planalto - DF - (Foto: Ricardo Stuckert/PR) |
Em meio à retaliação tarifária norte-americana, apoiada por figuras da família Bolsonaro, Pequim reage com pragmatismo e cooperação: habilita empresas brasileiras, estimula feiras e comércio eletrônico, e celebra a chegada de itens como café, carne, gergelim e açaí ao mercado chinês. Se fosse 25 anos atrás, o comércio do Brasil com os Estados Unidos era 25%. Hoje é 12%. E isso em grande parte devido aos Brics, à China.
Na quarta-feira (6), uma conversa entre Celso Amorim, assessor especial da Presidência da República, e Wang Yi, chanceler chinês e alto dirigente do Partido Comunista, consolidou a guinada estratégica. Wang criticou o uso de tarifas como forma de pressão política e reiterou o apoio firme à soberania e dignidade do Brasil. Em tom direto, afirmou que a China “apoia firmemente o Brasil na defesa do seu direito ao desenvolvimento e na resistência à prática intimidatória de tarifas abusivas”.
Parceria Brasil e China
Na versão em chinês do comunicado, publicada pelo Ministério das Relações Exteriores, o tom foi ainda mais claro: Pequim apoia o Brasil “na consolidação da solidariedade e da cooperação no Sul Global através do mecanismo Brics” e se opõe à “interferência irracional nos assuntos internos” do país sul-americano. A resposta se dá num momento em que o governo Trump aplica sobretaxas de até 50% a diversos produtos brasileiros, afetando especialmente o café – setor no qual o Brasil é líder mundial.
Em gesto simbólico e comercialmente poderoso, a Embaixada da China no Brasil anunciou, no mesmo dia do tarifaço norte-americano, a habilitação de 183 empresas brasileiras de café para exportação ao mercado chinês por cinco anos. E mais: o país asiático habilitou também 30 novas empresas brasileiras para exportar gergelim, somando agora 61 companhias autorizadas.
Importações e exportações
A China, maior mercado consumidor de soja do mundo, também ampliou as compras do grão brasileiro. Em julho, as importações alcançaram 11,67 milhões de toneladas, um recorde, impulsionado pela oferta abundante e pela instabilidade no comércio com os EUA. Segundo a Administração Geral de Alfândega da China, os embarques brasileiros cresceram 4,6% nos primeiros sete meses do ano, somando mais de 61 milhões de toneladas.
O reforço da cooperação não é pontual. A ApexBrasil realiza campanhas de promoção do café e do açaí nas redes chinesas desde a última visita do presidente Lula a Pequim, em maio. A rede de cafeterias Luckin e a rede de bebidas Mixue são alguns dos canais escolhidos. Já a embaixada chinesa tem promovido produtos brasileiros nas mídias sociais com tom entusiasmado: “Churrasco na China? Sim, meus amigos!”, celebrou em uma publicação, listando restaurantes de rodízio brasileiro em cidades como Xangai, Pequim e Shenzhen.
Outro destaque é o açaí, símbolo da biodiversidade amazônica, que vem ganhando espaço entre consumidores chineses preocupados com saúde e bem-estar. A superfruta brasileira já é encontrada em grandes centros chineses como Guangzhou e está em expansão.
Multilateralismo
Celso Amorim destacou, na conversa com Wang Yi, que o Brasil está preparado para fortalecer sua atuação com múltiplos parceiros. Ao comentar a possível reaproximação entre China e Índia, ele afirmou: “Isso é muito importante. Que haja essa reaproximação, porque é a origem dos Brics. É importante que se consolide essa relação sino-indiana. O Brasil quer ter excelentes relações com ambos.”
Esse movimento de diversificação é visível. Em paralelo ao avanço com a China e Índia, o Brasil também observa crescimento nas exportações para países como México e blocos como a União Europeia, aproveitando sua competitividade agrícola e industrial e o momento de instabilidade comercial global. De acordo com a ApexBrasil, o Brasil fechou o primeiro semestre de 2025 com superávit na balança comercial e aumento de exportações em diversos setores, especialmente para mercados alternativos aos EUA.
Wang Yi sintetizou o espírito da nova fase: “A China está disposta a trabalhar com o Brasil de modo a compensar as incertezas externas com a estabilidade e a complementaridade da cooperação bilateral”. E o fez com clareza estratégica: mais que negócios, o apoio se dá em defesa da soberania, contra pressões externas e a favor de um novo multilateralismo com base no Sul Global. Um gesto que, diante das tarifas de Trump, ganha peso político e econômico.
O presidente Lula conversou com o presidente indiano, Modi. A parceria é estratégica. Brasil e Índia foram os países mais taxados por Trump |
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