Ex-presidente do União Brasil diz que Rei do Lixo é parte do esquema de corrupção que envolve Caiado, Alcolumbre e ACM Neto. “A milícia do Rio é trombadinha perto do que políticos da cúpula do partido fazem”, disse Luciano Bivar
Quarta-feira, (18) de dezembro de 2024
A investigação da Polícia Federal envolvendo o empresário Marcos Moura, conhecido como o “rei do lixo”, expôs um suposto esquema de corrupção que pode abalar as estruturas do União Brasil e revelar um dos maiores escândalos políticos dos últimos anos.
Moura, preso durante a Operação Overclean no dia 10 de dezembro, é apontado como o articulador de uma vasta rede de contratos fraudulentos em 17 estados brasileiros, movimentando cerca de R$ 1,4 bilhão nos últimos anos. Só em 2024, o grupo teria desviado R$ 800 milhões. Documentos apreendidos pela PF, incluindo R$ 1,5 milhão em espécie e dezenas páginas de planilhas detalhadas, reforçam as suspeitas de superfaturamento, lavagem de dinheiro e manipulação de licitações públicas.
O esquema, que teria como base contratos de coleta de lixo, dedetização e obras públicas, envolve lideranças do União Brasil, como o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, e o senador Davi Alcolumbre (AP). Moura, filiado ao partido e integrante da cúpula, teria utilizado sua empresa MM Limpeza Urbana para firmar contratos milionários com prefeituras governadas por aliados políticos. Somente em Salvador, ele detém contratos de mais de R$ 1 bilhão.
Além disso, as investigações indicam que emendas parlamentares também foram usadas para direcionar recursos a prefeituras e empresas ligadas ao grupo. Com a decisão sobre sua liberdade nas mãos da desembargadora do TRF1 Daniele Maranhão, a expectativa é de que um eventual acordo de colaboração premiada de Moura possa expor um esquema de corrupção de alcance nacional, envolvendo contratos públicos, desvio de recursos e conexões políticas que ameaçam implodir o comando do União Brasil, presidido por Antônio Rueda.
Um dos pontos-chave que facilitam esquemas como este é a falta de transparência e rastreabilidade no uso de emendas parlamentares. Muitas vezes, os recursos dessas emendas são direcionados para prefeituras e empresas sem mecanismos robustos de fiscalização, criando brechas para fraudes e desvios de verbas.
Esquema de corrupção que envolve Caiado, Alcolumbre e ACM Neto
O ex-presidente nacional do União Brasil, Luciano Bivar, disse que o escândalo em torno dos contratos celebrados pelo chamado Rei do Lixo com prefeituras deve revelar um mega esquema de corrupção, de proporções nunca vistas no Brasil.
“Essa milícia do Rio de Janeiro é trombadinha perto do que políticos da cúpula do partido fazem ”, disse ele ao Brasil 247, diretamente de Miami, Flórida, para onde viajou com a família.
“Acho que não houve um esquema de corrupção tão grande quanto este do União Brasil”, acrescentou Bivar. Ele conhece bem os personagens dessa trama descoberta pela Polícia Federal, na Operação Overclean.
Bivar foi presidente do União Brasil até que sofreu um golpe interno do partido, que teve como beneficiário Antônio Rueda, seu ex-braço direito, mas que teria sido arquitetado pelo governador de Goiás, Ronaldo Caiado, o senador Davi Alcolumbre e o ex-prefeito de Salvador, ACM Neto.
Os três são justamente os suspeitos de serem os pilares políticos do empresário José Marcos Moura, o “Rei do Lixo”, integrante do Diretório Nacional do União Brasil. No relatório da Polícia Federal, o Amapá, Estado de Davi Alcolumbre, é citado dez vezes, no contexto de contratos de recolhimento de lixo superfaturados.
Bahia e Goiás, Estados de ACM Neto e Ronaldo Caiado, também aparecem no relatório.
“Após a instauração do inquérito policial e o deferimento de medidas de afastamento de sigilo telefônico, telemático, fiscal, bancário e de captação ambiental, decretadas no interesse das apurações empreendidas no âmbito do IPL n. 2023.01059 – SR/PF/BA (1007020-14.2024.4.01.3300), foram colhidos elementos importantes de materialidade e autoria de práticas criminosas acima listadas, com abrangência em outros municípios do Estado da Bahia, do Tocantins, Amapá Rio de Janeiro e Goiás”, destaca a investigação da PF.
No livro que acaba de publicar, “Democracia Acima de Tudo”, Bivar conta que seu afastamento da presidência do União Brasil ocorreu em razão da recusa em apoiar a candidatura de Jair Bolsonaro à reeleição, o que o colocou na linha de tiro de figuras importantes do partido, entre os quais Caiado, Davi Alcolumbre e ACM Neto.
Publicamente, eles faziam jogo dúbio, mas, internamente, não queriam a candidatura de Soraya Thronicke a presidente, para deixar espaço ao voto em Bolsonaro no primeiro turno.
Por trás desse apoio velado, estaria o mega esquema de corrupção viabilizado com o chamado orçamento secreto, que dificultava o rastreamento dos recursos enviados a prefeituras e usados para pagamento dos contratos celebrados com o Rei do Lixo.
Bivar diz que seus advogados estudam hoje entrar na Justiça para pedir a destituição de Antonio Rueda, que atuaria no contato com prefeituras em favor das empresas de recolhimento de lixo. “Por enquanto, só apareceu a ponta do iceberg”, afirmou.
Do Brasil 247