PF AFIRMA QUE EMPRESÁRIO INVESTIGADO POR CORRUPÇÃO ACIONOU ACM NETO PARA CONSEGUIR PAGAMENTOS DA PREFEITURA DE SALVADOR

Grupo de Marcos Moura, conhecido como "rei do lixo", que mantém contrato de R$ 427 milhões, teria acionado o político baiano para conseguir pagamentos em Salvador
Segunda-feira, (16) de dezembro de 2024
O ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil), à esq., e o empresário José Marcos de Moura — Foto: Brenno Carvalho/O Globo e reprodução
Um empresário que faz parte da direção do União Brasil e que mantém contratos no valor de R$ 427 milhões com a prefeitura de Salvador (BA) utilizou o nome do ex-prefeito ACM Neto, poderoso herdeiro do clã político dos Magalhães no estado, para conseguir receber pagamentos da atual administração da capital baiana. A afirmação é da Polícia Federal, que instaurou uma investigação sobre o esquema.

Marcos Moura, conhecido como “rei do lixo”, e um outro empresário, identificado como Alex Parente, foram alvos da Operação Overclear. O primeiro é muito próximo de ACM Neto e inclusive é sócio da irmã do ex-prefeito soteropolitano na aquisição de uma aeronave. Os negócios de Moura envolvem várias prefeituras da Bahia, incluindo aí a exploração dos serviços de limpeza urbana de Salvador, que tem vigência de dois anos e que foi renovado recentemente.

De acordo com a PF, o grupo de empresários está sob investigação por suspeita de fraude em licitação e por superfaturamento de contratos com o poder público. A Operação Overclear não mirou as relações de Moura e Parente com o serviço de limpeza de Salvador, mas sim licitações que seriam fraudulentas com o Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra a Seca), também de empresas relacionadas aos investigados.

O nome de ACM Neto não está entre os investigados da PF, mas é citado e repetido várias vezes no inquérito instaurado, segundo o diário carioca O Globo e o portal Uol. Os federais afirmam que uma outra empresa, a Larclean, também estaria envolvida em licitações ilegais e superfaturamentos. Moura não é sócio da Larclean, que é de propriedade de Parente, no entanto, os dois atuariam juntos no esquema que envolve a firma.

“Em decorrências dos contratos firmados pela empresa Larclean com o município, segundo o portal da transparência, a ORCRIM (organização criminosa) recebeu R$ 67.121.847,99 da Prefeitura de Salvador/BA, por meio da empresa Larclean. Conforme registrado na IPJ 3517658/2024, a licitação foi sistematicamente fraudada e os pagamentos superfaturados”, diz o relatório da PF.

Conforme as mensagens obtidas pela PF, Parente estaria tentando de todas as formas receber pagamentos milionários da Prefeitura de Salvador, uma vez que a Larclean tem um contrato com a Secretaria de Educação do município. Na conversa, os empresários afirmam que tal fato não teria ocorrido pela primeira vez e que em outras ocasiões ACM Neto teria “ajudado a resolver” a situação, já que o atual prefeito de Salvador, Bruno Reis (União Brasil) tem o tradicional integrante da família Magalhães como seu padrinho político.

“Se lembra daquela outra vez? Foi Marco que... Foi Marco que resolveu, entendeu? Falou com o zero um antigo. O zero um antigo falou e resolveu”, diz Parente a um outro empresário. “Zero um antigo” seria ACM Neto.

“Ficou evidente que esta não era a primeira vez que Alex teria recorrido a Marcos Moura, a fim de intervenção junto ao Secretário, inclusive, afirmando que em outra oportunidade Marcos Moura teria ido diretamente ao zero um antigo, ou seja, o antigo prefeito da cidade de Salvador/BA, Antônio Carlos Magalhães Neto - ACM Neto. Marcos Moura e o ex-prefeito são amigos de longas datas, amizade essa amplamente divulgada em matérias jornalísticas”, sinaliza a PF no pedido de prisão de Moura e Parente que foi acatado pela Justiça na última semana.

ACM Neto negou qualquer envolvimento no esquema e sua assessoria divulgou uma nota reiterando que ele não aparece como investigado ou participante de qualquer ato criminoso.

“Os autos, tornados públicos pela Polícia Federal, evidenciam que não há registro de qualquer diálogo de ACM Neto no âmbito das investigações, nem mesmo citação direta ao seu nome. Existem apenas inferências, que, ainda assim, não estão relacionadas a qualquer ato ilícito”, disse a assessoria do ex-prefeito.

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