Antes da privatização da antiga Refinaria Landulpho Alves (RLAM), hoje Refinaria Mataripe, a Bahia estava entre os estados com o gás de cozinha mais barato do Brasil.
Em 2021, último ano em que a RLAM ainda era administrada pela Petrobrás, a Bahia ocupava a terceira posição no ranking de preços de GLP mais baixos do país. No entanto, em 2024, a situação mudou dramaticamente. O estado caiu 17 posições e agora ocupa o nono lugar entre os estados com o valor do gás de cozinha mais caro do Brasil.
A principal causa desta alta acentuada é a diferença de preços praticada pela Acelen, que controla a antiga RLAM, hoje Mataripe, em comparação com os valores que anteriormente eram oferecidos pela Petrobras.
O aumento gera críticas e preocupações entre consumidores e especialistas, que alertam para os efeitos econômicos negativos decorrentes dessa privatização. A elevação no preço do gás de cozinha impacta diretamente o custo de vida da população, principalmente das famílias de baixa renda, que dependem fortemente deste recurso para suas atividades cotidianas. Em 2022, o Brasil teve maior consumo de lenha em 13 anos, fruto dos altos preços.
O economista da Associação dos Engenheiros da Petrobrás, Núcleo Bahia (AEPET-BA), Eric Gil Dantas, lembra que de janeiro a maio deste ano, o preço do GLP vendido pela refinaria de Mataripe foi, em média, 36,4% mais caro do que o praticado pela Petrobras. “A diferença ainda se manteve significativa, em maio, com o gás de cozinha sendo vendido 28% mais caro pela refinaria privada”, afirma ele.
Até abril, a Bahia teve o quarto reajuste do gás de cozinha, sendo três aplicados pela Acelen, que administra a Refinaria de Mataripe. O aumento, elevou o preço do botijão ao consumidor entre R$ 5 e R$ 7. Com essa mudança, o valor do botijão ultrapassa os R$ 140,00.
A situação, no estado, exemplifica os desafios e repercussões da privatização de serviços essenciais, levantando um debate sobre os benefícios e desvantagens de tais políticas. Enquanto a privatização visava aumentar a eficiência e competitividade, os dados mostram que, no caso do GLP, os consumidores têm sentido um peso maior no bolso, o que pode levar a uma revisão das políticas de privatização no setor energético brasileiro. O mesmo ocorre com a gasolina e o diesel, mas com menor intensidade.
A RLAM foi vendida para o fundo árabe Mubadala, em dezembro de 2021. A venda foi feita por R$ 1,65 bilhão de dólares, cerca de R$ 8,25 bilhões à época. Segundo avaliações do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo (Ineep), ela valia pelo menos o dobro disso.
O presidente da AEPET-BA, Marcos André dos Santos, defende a volta da Refinaria Mataripe para a gestão da Petrobrás “como solução do fim da política de preços, aplicada pela Acelen, que leva em conta o valor do dólar e do barril de petróleo no mercado internacional. Política essa que já foi extinta pela Petrobrás”, disse ele.
Com a reestatização da RLAM, os consumidores baianos vão voltar a pagar os preços da gasolina, diesel e gás de cozinha mais baratos.