PROPINAS A AÉCIO E PERRELA FORAM ENTREGUES EM CAIXAS DE SABÃO EM PÓ

Sexta-feira, 16 de Novembro de 2018
O empresário Waldir Rocha Pena, proprietário de um supermercado utilizado pelo grupo JBS para repassar propinas a políticos, revelou ter entregue dinheiro vivo a Frederico Pacheco, primo do senador Aécio Neves (PSDB-MG) e a Mendherson Souza, ex-assessor do senador Zezé Perrela (MDB-MG). Segundo Pena, o dinheiro foi entregue dentro de caixas de sabão em pó.

Segundo o jornal O Globo, o relato do empresário ratifica a delação premiada feita por executivos da JBS quanto ao pagamento de propinas para os políticos mineiros. O depoimento prestado à Receita Federal foi encaminhado à Procuradoria-Geral da República (PGR), que tem competência para investigar a denúncia me função do foro privilegiado dos parlamentares.

O teor do depoimento também foi empregado pela Polícia Federal de Minas Gerais no âmbito da Operação Capitu, que apura corrupção e desvios no Ministério da Agricultura, e que resultou em um novo pedido de prisão temporária para um dos donos da JBS, o empresário Joesley Batista.

Em sua delação premiada, o o ex-diretor da JBS Ricardo Saud, afirmou que o pagamento de suborno para Aécio, totalizando cerca de R$ 4 milhões, foi operacionalizado por meio de um supermercado em Belo Horizonte. As informações foram confirmadas por Pena. Segundo as investigações, porém, os repasses foram maiores que os citados nas delações, chegando a R$ 6 milhões, conforme documentos contábeis apreendidos pelos agentes. As propinas teriam sido pagas em 2014, que foi ano eleitoral.

A assessoria de Aécio Neves informou que "todas as doações recebidas pela campanha nacional do PSDB em 2014 foram legais e estão devidamente declaradas junto à Justiça Eleitoral. As acusações formuladas pelos executivos da JBS já se mostraram mentirosas, o que levou inclusive a PGR a solicitar a rescisão de seus acordos de colaboração".

Já a assessoria de Zezé Perrella destacou que não existem elementos que liguem o pagamento de propinas ao senador. A defesa de Mendherson disse que o depoimento de Pena não passa de uma "mentira estúpida".

RAQUEL DODGE PEDE MAIS 60 DIAS PARA INVESTIGAÇÃO SOBRE AÉCIO
De acordo com o Uol, "a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, solicitou ao ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a prorrogação do inquérito que investiga o senador Aécio Neves (PSDB-MG) por suposto recebimento em 2014 de valores indevidos pela Construtora Norberto Odebrecht, do grupo Odebrecht, para a sua campanha eleitoral. Datado de 12 de novembro, o parecer de Raquel Dodge pede mais 60 dias para a conclusão do inquérito".

Os pagamentos teriam sido feitos através de contratos fictícios com a empresa PVR Propaganda e Marketing Ltda, segundo relataram os delatores ouvidos no caso.

"A perícia deverá analisar os dados referente a data de criação/modificação dos arquivos (metadados), entre outras informações que possam comprovar que o contrato foi elaborado em data posterior apenas para 'cobrir' pagamento de propina ao senador Aécio Neves", escreveu Raquel Dodge, que também manifestou-se contrária aos pedidos de arquivamento e de declínio de competência feitos pela defesa de Aécio Neves.

Leia também à matéria de Mateus Coutinho de O Globo
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge , pediu na segunda-feira ao Supremo Tribunal Federal ( STF ) a prorrogação por 60 dias do inquérito que investiga o senadorAécio Neves (PSDB-MG) por suspeita de receber propina de R$ 50 milhões das empreiteirasOdebrecht e Andrade Gutierrez referentes às obras das usinas de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira, em Rondônia.

Na manifestação, encaminhada ao relator do caso, ministro Edson Fachin, a procuradora-geral aponta que é necessário ouvir um ex-funcionário da Odebrecht, além de concluir as perícias da Polícia Federal (PF) no sistema de contabilidade do departamento de propinas da empreiteira referentes ao codinome “mineirinho” que era utilizado, segundo os delatores, para se referir a Aécio. Raquel Dodge ainda pontuou no pedido que é necessário concluir as análises dos materiais apreendidos ao longo da Operação Lava-Jato que tenham relação com o caso do tucano.

“A análise de tais bases de dados (os sistemas Drousys e MyWeb Day, utilizados pelo departamento de propinas da Odebrecht) se revela imprescindível para a formação da opinio delicti pelo Ministério Público Federal, razão pela qual se impõe a prorrogação do prazo para cumprimento desta diligência”, assinala a PGR na solicitação encaminhada ao Supremo. Cabe a Fachin decidir sobre a continuidade das investigações.

SAIBA MAIS 
Além das perícias e análises de material, os investigadores querem ouvir o ex-funcionário da Odebrecht Enio Augusto Pereira e Silva. Ele era assessor diretor do diretor da Odebrecht Henrique Valladares, um dos que delatou o envolvimento de Aécio no caso de Santo Antônio. Ele já foi chamado pela PF para depor, mas disse que só iria se manifestar depois de homologada sua leniência. Enio Silva tenta aderir, assim como outros ex-funcionários da empreiteira, ao acordo da Odebrecht para conseguir benefícios em troca de sua colaboração.

De acordo com o ex-presidente da empreiteira, Marcelo Odebrecht, o pagamento de propina a Aécio foi acertado durante um encontro entre ele e o tucano em Belo Horizonte em 2008, quando este era governador de Minas Gerais. Segundo os delatores, o repasse de R$ 50 milhões foi dividido entre a Andrade Gutierrez (R$ 20 mi) e a Odebrecht (R$ 30 mi).

De acordo com Marcelo, o objetivo dos pagamentos a Aécio era influenciar decisões da Companhia Elétrica de Minas Gerais (Cemig) — estatal de energia mineira — e Furnas — estatal federal — a favor da empreiteira baiana e da Andrade Gutierrez. Na época do suposto pedido, Aécio exercia seu segundo mandato como governador de Minas Gerais e integrava a oposição ao governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), responsável por licitar Santo Antônio. Apesar disso, o tucano tinha influência no setor elétrico devido à sua relação com Dimas Toledo, ex-diretor de Furnas, umas das empresas sócias da usina, além de estar à frente do estado que comanda a Cemig, outra sócia do empreendimento.

Com o avanço das investigações, os executivos da Andrade Gutierrez também foram chamados para depor e o ex-presidente da AG Energia e também colaborador Flávio David Barra afirmou que a empreiteira repassou R$ 20 milhões ao tucano por meio de uma transferência para a empresa Aalu Participações e Investimentos, empresa controladora da rede de academias Bodytech que pertence ao empresário carioca Alexandre Accioly.

Segundo o relato de Barra, a empresa, que leva as iniciais dos dois sócios, firmou um contrato de R$ 35 milhões com a Andrade para mascarar propina paga pela empreiteira ao tucano, em 2010. O valor seria uma contrapartida pela defesa, por parte de Aécio, então governador de Minas, da participação da Andrade no consórcio de construção da Usina. Depois de Barra, foi a vez de o próprio acionista da Andrade, Sérgio Andrade, relatar à PF que o contrato com a empresa de Accioly foi feito para justificar o repasse de recursos ao tucano. Sérgio Andrade também confirmou o acerto feito entre a empreiteira mineira e a Odebrecht, citado na delação premiada de executivos do grupo baiano, entre eles o ex-presidente e herdeiro da companhia Marcelo Odebrecht.

Por meio de nota, a defesa do senador afirmou que “pedidos de prorrogação são atos de rotina em inquéritos e não constituem fato novo. O aprofundamento das investigações vai demonstrar a correção de todos os atos do senador Aécio Neves”.

Quando depôs à PF neste caso, pediu que os investigadores identificassem os destinatários de uma conta bancária em Cingapura, revelada por delatores da Odebrecht, que apontaram a conta como sendo uma das utilizadas para o repasse da propina. O tucano solicitou que “‘sejam identificados os beneficiários da conta bancária em Cingapura, mencionada pelo delator, mostrando, assim, não ter ele qualquer relação com a mesma”.

Quando o caso veio à tona, Accioly confirmou o repasse da Andrade para sua empresa, mas negou que tenha sido usado para repassar recursos para Aécio e disse que teria sido um investimento da empreiteira na rede de academias. Segundo ele, a Andrade e nenhum acionista nunca receberam dividendos. O empresário afirma que a empreiteira “permanece como acionista”por meio de uma Sociedade em Conta de Participação (SCP) com a empresa Safira Participações, que pertence ao grupo mineiro. A Andrade, por sua vez, negou a alegação de Accioly e informou que “não é e nunca foi sócia na rede de academias”.

Acompanhe as publicações do Blog do ZCB no Facebook. Curta aqui.

Leia também

Zé Carlos Borges

Seu maior portal de notícias agora com uma nova cara, para satisfazer ainda mais seu interesse pela informação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário