IBOVESPA DESABA 5,45% NA PIOR SEMANA DESDE AGOSTO E DÓLAR DISPARA PARA R$ 3,90

Sexta-feira, 22 de março de 2019
A combinação de um noticiário bastante negativo sobre as perspectivas para a reforma da Previdência com a piora do cenário externo completou a semana caótica do mercado brasileiro, que desde quarta-feira "coleciona" más notícias para a reforma da Previdência e vê a bolsa sair dos 100 mil pontos para a faixa dos 93 mil pontos.

Neste cenário, o Ibovespa fechou esta sexta-feira (22) com queda de 3,10%, aos 93.735 pontos, após chegar a cair cerca de 3,46% na mínima do dia, para 93.379 pontos. O volume financeiro ficou em R$ 19,902 bilhões. Com isso, o índice acumulou queda de 5,45% na semana, sendo seu pior desempenho semanal desde o início de agosto do ano passado, quando caiu 6,04%.

Enquanto isso, o dólar comercial disparou 2,69%, cotado a R$ 3,9022 na venda - máxima da moeda desde 26 de dezembro, quando estava em R$ 3,92 -, fechando a semana com ganhos de 2,10%. Já o dólar futuro com vencimento em abril teve valorização de 3,16%, a R$ 3,913.

Além do dólar e Ibovespa, os contratos de juros futuros reagiram ao noticiário e registraram forte alta: o com vencimento em 2021 teve alta de 27 pontos-base, para 7,14%, enquanto o com vencimento em 2023 subiu 33 pontos, a 8,30%.

A semana começou em ritmo de euforia, com o Ibovespa chegando a superar por dois dias o patamar de 100 mil pontos no intraday, apesar de não haverem grandes novidades que pudessem sustentar os ganhos. Na "super quarta", a decisão do Federal Reserve de manter os juros e indicar que não irá subir as taxas esse ano fez o mercado se anima, mas isso durou pouco tempo.

No mesmo dia, o mercado desabou e o dólar disparou com a entrega da reforma da Previdência dos militares. Os investidores não gostaram nada da proposta de economia de R$ 10,45 bilhões em 10 anos apontado pelo projeto. A reforma ainda eleva o tempo de serviço na ativa e também a alíquota de contribuição da categoria. Em 20 anos, o impacto estimado é de R$ 33,65 bilhões.

O segundo fator que pesou na Bolsa na quarta foi uma pesquisa Ibope mostrando que as avaliações positivas do governo Bolsonaro recuaram 15 pontos percentuais desde o início do governo, para atuais 34%. Por outro lado, as avaliações negativas para a atual gestão saltaram de 11% para 24% da posse para cá.

Mas o noticiário negativo não parou. Na quinta, o mercado ainda repercutia o mau humor do dia anterior quando a prisão do ex-presidente Michel Temer azedou totalmente os negócios. A avaliação é que o episódio afeta ainda mais a percepção sobre a reforma da Previdência, uma vez que desvia o foco da pauta econômica e novas questões ganham destaque, como se outros políticos podem estar envolvidos.

"É todo negativo o noticiário político subsequente à prisão do ex-presidente Michel Temer. A avaliação dominante é a de que a prisão 'acirra tensões' entre o presidente Jair Bolsonaro e a base de partidos necessária para a aprovação da proposta de emenda à Constituição que trata da reforma da Previdência", destaca a XP Política.

O pregão desta sexta-feira
Mas o noticiário negativo não acabou e nesta sexta-feira, a disputa entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o governo conseguiu piorar ainda mais o clima da bolsa.

O dia começou com a notícia de que Maia avisou o ministro da Economia, Paulo Guedes, que deixaria a articulação política pela reforma da Previdência, decisão tomada após mais um post do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), com fortes críticas a ele, conforme destacou matéria do jornal O Estado de S. Paulo.

Irritado, o deputado telefonou para Guedes e disse que, se é para ser atacado nas redes sociais por filhos e aliados de Bolsonaro, o governo não precisa de sua ajuda. No início da tarde Maia amenizou um pouco a queda da bolsa após falar que defende a reforma da Previdência.

O presidente da Câmara fez um tuíte em que afirmou: "Nunca vou deixar de defender a reforma da Previdência". Essa declaração deu uma rápida aliviada no mercado, mas durou pouco.

Porém, minutos após a postagem, Maia disse em entrevista à Folha que a responsabilidade pelos votos da Previdência é de Bolsonaro, em mais uma sinalização de falta de união pela proposta. "O papel de articulação do executivo com o parlamento nunca foi e nunca será do presidente da Câmara", disse ele para a colunista Mônica Bergamo.

Na sequência, o Ibovespa voltou a piorar, passando a marca de 3% de queda após o líder do DEM na Câmara, deputado Elmar Nascimento, afirmar que Maia está fora da articulação do governo. Em entrevista, Nascimento afirmou que "a paciência dos deputados acabou" e que "não existe mais interlocução". "O ambiente na Câmara é muito ruim", completou o deputado.

Ainda antes do fechamento da bolsa, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), líder do governo no Congresso, se somou ao senador Flávio Bolsonaro nos elogios ao presidente da Câmara. Ela tratou de defender o político de "um movimento nas redes para colar em Rodrigo Maia a pecha de que ele é contra a Nova Previdência", o que, segundo a deputada, é uma campanha mentirosa.

De acordo com a deputada, Maia é um dos que "mais tem trabalhado" pela aprovação "logo" do "principal plano do governo", a reforma da Previdência. "Na prática, sem Maia, a coisa não vai e o Brasil empaca. Simples assim", escreveu a líder do governo.

Logo em seguida, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que está aberto para conversar com Maia e que não deu motivo para o parlamentar do Rio de Janeiro tomar essa atitude.

"Quero saber o motivo que ele está saindo", disse Bolsonaro após deixar o Palácio de La Moneda, sede do governo chileno. "Estou sempre aberto ao diálogo. Estou fora do Brasil. Quero saber o motivo, só isso e mais nada. Eu não dei motivo para ele sair [da articulação]", declarou Bolsonaro.

Além disso, o presidente disse que a declaração do filho Carlos Bolsonaro, com críticas a Maia por adiar a tramitação do projeto anticrime, não é motivo para Maia ameaçar sair da articulação política.

Mercado externo
Vale destacar que os mercados no exterior também tiveram uma sessão de aversão ao risco: as bolsas europeias e os índices americanos registram forte queda, repercutindo o dado frustrante de atividade na Alemanha, que renovou os receios de desaceleração emitidos pela surpresa "dovish" do Federal Reserve na quarta-feira.

O Markit/BME de manufaturas da Alemanha ficou em 44,7 em março, ante estimativa de 48 e anterior de 47,6. O dado foi o mais baixo desde 2012, na terceira leitura seguida abaixo de 50, configurando uma retração que pode refletir tensões no comércio global.

Contribuindo para a percepção de desaceleração econômica, estão os indicadores dos EUA, que intensificaram a queda da bolsa. O PMI da indústria de março teve queda para 52,5, ante 53,6 esperados.

Noticiário corporativo
O noticiário corporativo foi bastante movimentado. A mina de Brucutu volta a ser alvo do Ministério Público de MG, possivelmente complicando a retomada da sua produção de minério de ferro.

A Vale saiu de watch negativo para perspectiva negativa por S&P. A perspectiva negativa nos ratings da escala global reflete as incertezas significativas sobre a quantidade de multas e litígios com os quais a Vale precisará lidar e como elas atingirão métricas financeiras e liquidez e também possíveis impactos reputacionais.

Já a Petrobras reverteu liminar sobre a hibernação fábrica fertilizante. O Estadão informa ainda que, depois de veto do Cade, Petrobras retoma oferta da Liquigás ao mercado.

Contudo, com o mercado refletindo principalmente o noticiário sobre a Previdência, as maiores baixas seguem de bancos e estatais, enquanto a Suzano é uma das poucas altas expressivas em meio ao dia de valorização do dólar.

Do Infomoney

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